O que falar da produção da Geeked Week da Netflix?
Desde a primeira Comic-Con virtual da pandemia, em julho de 2020, plataformas e estúdios viram que dava para realizar convenções/festivais online, e partiram para reunir seus principais conteúdos em infomerciais disfarçados de eventos, visando mobilizar atenção da mídia e do público para seus próximos lançamentos. Deu certo com a DC Fandome. Deu médio com a primeira Geeked Week do ano passado. Mas… o que falar da Geeked Week deste ano?
Ignorados na grande imprensa, esporadicamente citados por veículos de entretenimento não específicos do universo de filmes e séries, os três primeiros dias da Geeked Week de 2022 foram um grande vácuo.
Querendo inovar, a Netflix piorou o formato que já não era brilhante, deixando a filial brasileira conceber sua própria abordagem do conteúdo. E enquanto a produção original fez uma apresentação tradicional, com bônus para a acessibilidade do conteúdo por capítulos no feed do YouTube, a versão nacional se caracterizou por improviso.
Em parceria com a Loud, a apresentação foi feita por adolescentes cheios de energia e pouco conteúdo, lotando a tela de gente com dificuldades para falar acertadamente os nomes pronunciados em inglês e dizer frases simples sem cair em vícios repetitivos de linguagem, mas capazes de rir muito de piadas internas irrelevantes para quem pretendia descobrir novidades da Netflix.
Imagine uma transmissão do Oscar focada no “react” dos comentaristas, falando bem alto no momento de introdução dos candidatos ao prêmios, com a imagem principal pequeninha na tela, enquanto alguém confessa ser um especialista que desconhece tudo sobre os concorrentes. Em resumo, eis a versão da Geeked Week no Brasil.
Vale reparar que, no terceiro dia do evento, a “galera gamer” sumiu. Na edição dedicada à animações, a transmissão apenas acrescentou legendas ao feed original dos EUA.
De todo modo, a Geeked Week original também tem evidentes problemas de conceito. A revelação de trailers inéditos na Comic-Con sempre foi acompanhada por painéis com integrantes dos elencos, que complementam informações e interagem com o público. Já a reprodução consecutiva de vídeos com pouca mediação resulta apenas num screensaver de trailers, não muito diferente do que acontece no modo de espera da plataforma – aquele tempo em que se pondera a decisão do que ver a seguir.
Apenas em duas ocasiões do primeiro dia, a produção abriu espaço para supostos debates com elencos. Mas com perguntas genéricas e respostas ensaiadas, nenhuma das falas de nenhum ator virou notícia – isto é, não houve a repercussão que costuma acompanhar os painéis factuais das Comic-Cons. Faltaram anúncios, faltaram curiosidades, faltou até carisma de modo geral, mas principalmente faltou jornalismo.
É muito simples, realmente. Para atrair a mídia, o conteúdo tem que gerar interesse jornalístico. Já para render eco nas redes sociais, basta um gif. Não precisa fazer uma semana geek.
Ao final, a coleção de trailers, vídeos de bastidores, algumas fotos e poucos anúncios também estão sendo distribuídos pelas redes sociais da plataforma, resultando numa semana com mais notícias da Netflix nos sites de cinema e séries que nas semanas anteriores. E nada além disso.
Reparem que os concorrentes mantiveram sua programação normal e, mesmo com a quantidade de vídeos liberados pela Netflix, tiveram mais destaque nestes dias.
Ainda resta expectativa para o que reserva a quinta-feira (9/6), quando a Netflix dedicará uma edição inteira da Geeked Week a “Stranger Things”. O frisson gerado pela série dos irmãos Duffer tende a mobilizar a atenção que o evento até agora não conseguiu gerar. Se bem que… informações preliminares sugerem que parte da programação será: assistir aos atores numa partida de “Dungeons & Dragons”…
Veja abaixo os vídeos oficiais dos três primeiros dias da Geeked Week.