O ator Ezra Miller, que interpreta o Flash nos filmes da DC Comics, virou alvo de novas acusações. Ele foi denunciado por assediar uma mulher em fevereiro na Alemanha. Além disso, a vítima de seu ataque na Islândia decidiu quebrar o silêncio.
Foi na Islândia que a onda de violência do ator começou. Miller começou a frequentar os bares da capital Reykjavík após a interrupção das filmagens de “The Flash”, devido à pandemia de covid-19, em março de 2020. Segundo o bartender do Prikið Kaffihús, um pub localizado no coração de Reykjavík, ele já tinha se envolvido em confusões antes do vídeo da agressão a uma mulher ter se tornado viral em abril daquele ano.
Logo após o incidente, a revista Variety falou com a vítima da tentativa de enforcamento, mas só agora ela permitiu que seus comentários fossem impressos, pedindo apenas para permanecer anônima por conta de sua privacidade.
No vídeo, Miller é visto confrontando a mulher, que está sorrindo. Em seguida, ele agarra seu pescoço, enquanto ela solta um suspiro audível. A pessoa que gravou o vídeo parou para intervir ao ver que o enforcamento era real.
De acordo com três fontes, a mulher estava conversando com Miller no bar e perguntou sobre os chinelos que ele usava. Ele garantiu que podia usá-los até numa briga e perguntou se ela queria testar. Foi o início de tudo.
“Eu achei que era uma brincadeira, mas não era”, disse ela para a Variety.
Mesmo depois de separar o ator, ele continuou com raiva, cuspindo nas pessoas e xingando a todos.
Reação parecida foi testemunhada por outra mulher, Nadia, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado em nome de sua privacidade.
Nadia alega que, após uma amizade calorosa de dois anos com Miller, convidou o ator a ir a seu apartamento em Berlim em fevereiro passado. Eles não se viam desde que tiveram um encontro sexual consensual em 2020. Mas depois de uma interação amigável, o humor de Miller mudou drasticamente quando ela lhe disse que não podia fumar dentro de sua casa.
“Isso desencadeou uma mudança de comportamento”, disse Nadia. Usando a terceira pessoa do plural, já que Miller passou a se identificar como não binário, ela descreveu: “Pedi para eles saírem umas 20 vezes, talvez mais. Eles começaram a me insultar. Eu seria um ‘pedaço de merda transfóbico’. Eu seria uma ‘nazista’. Tornou-se tão, tão estressante para mim… Eles andavam pela minha casa, olhando tudo, tocando tudo, espalhando folhas de tabaco no chão. Parecia nojento e muito intrusivo.”
Depois de cerca de meia hora de súplica, Nadia decidiu chamar a polícia e só depois disso Miller resolveu sair. Apenas para voltar meia-hora depois e tentar arrombar a porta, gritando que ela tinha lhe roubado o passaporte. Miller tinha esquecido uma jaqueta com seus documentos, que Nadia jogou pela janela para se livrar dele.
O incidente a deixou profundamente perturbada. Embora ela acredite que não correu risco de abuso sexual, temeu que o ator “pudesse de alguma forma me atacar fisicamente”. “Eu me senti totalmente insegura”, disse ela.
Cinco pessoas – duas amigas, uma defensora dos direitos das mulheres, uma assistente social e a advogada de Nadia – disseram à Variety que conversaram com ela logo após esse encontro com Miller e corroboraram seu relato.
Em abril, Nadia apresentou uma queixa criminal contra Miller no Ministério Público em Berlim. Mas o processo foi interrompido porque o ator não se encontrava na Alemanha.
Pouco mais de um mês após sua experiência, Nadia viu as notícias de que o ator havia sido preso a meio mundo de distância no Havaí, por conduta desordeira e assédio, após outro incidente turbulento em um bar. Em maio, o TMZ divulgou um vídeo de câmera corporal da prisão de Miller, no qual o ator registra grande parte do encontro para, segundo eles, lançar uma “arte criptográfica NFT”. No vídeo, ele também diz que um cliente do bar “se declarou nazista” e acusou um policial de tocar em seu pênis durante a revista.
Nadia disse que então percebeu que se tratava de “um padrão”. “Eles abusam do jet-set”.
Esse suposto padrão foi se tornando cada vez mais alarmante nas semanas e meses seguintes. Miller foi submetido a uma segunda prisão no Havaí em abril, desta vez por jogar uma cadeira em uma mulher numa festa e deixá-la com um corte na testa.
Em seguida, foi alvo de duas ordens de restrição.
A primeira, conforme relatado pelo jornal Los Angeles Times, foi feita pelos pais de uma jovem de 18 anos da Reserva Indígena Standing Rock, na região de Dakota, que alegam que Miller manipulou sua filha desde que ela tinha 12 anos. Aos 18, ela abandonou a escola e fugiu de casa, indo parar na residência do ator. A jovem escreveu em seu Instagram que Miller a ajudou num momento difícil.
A segunda foi feita por pais de uma criança de 12 anos em Massachusetts. O site The Daily Beast relatou que Miller supostamente entrou em um confronto agressivo com a família da criança, sobre a referência casual da mãe a “sua tribo”. A certa altura, Miller supostamente revelou uma arma e disse a um membro da família: “Falar assim pode colocá-lo em uma situação realmente séria”. Ele teria, em seguido, constrangido a criança por abraçá-la e fazer comentários sobre gênero, ao descobrir que ela também se definia como não binária.
Para completar, neste mês de junho a revista Rolling Stone reportou que Miller estava abrigando uma mãe e seus filhos pequenos em sua fazenda em Vermont, em meio a condições inseguras, com armas e munição espalhadas pela propriedade. A mãe disse à publicação que o ator a ajudou a escapar de um casamento abusivo.
A Warner Bros. já teria decidido tirar Miller de novos projetos, substituindo-o como o herói Flash. Mas enfrenta um dilema em relação ao filme já concluído. Os custos para substituí-lo na produção seriam simplesmente caros demais – o ator não só está em quase todas as cenas como ainda tem papel duplo, como um Flash de outro universo. Também seria difícil arquivar o lançamento, após os gastos milionários investidos em sua produção.
Uma alternativa seria assumir prejuízos para lançar o longa direto em streaming.
A verdade é que, neste momento, o estúdio não sabe o que fazer, após tentar minimizar o envolvimento de Miller em “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, que estreou nos cinemas em abril e teve péssima bilheteria.