Um dos podcasts mais ouvidos/vistos do Brasil, o “Flow”, perdeu vários patrocinadores nesta terça (8/2), após seu apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, defender a legalização do partido nazista no Brasil.
A polêmica surgiu durante entrevista com os deputados federais Kim Kataguiri e Tabata Amaral, divulgada na noite anterior no Spotify, Facebook, Twitch e YouTube.
“A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião […] Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei”, disse Monark. Ele ainda completou: “Se o cara for anti-judeu ele tem direito de ser anti-judeu”.
A fala deu início a uma pressão nas redes sociais contra o programa, resultando na perda de seus principais patrocinadores. A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro rompeu contrato que tinha com o podcast para a transmissão do Campeonato Carioca e a Flash Benefícios anunciou no Instagram o fim imediato do patrocínio, citando os “comentários inadmissíveis dos quais discordamos de forma veemente”. Os donos da marca, Pedro e Guilherme Lane, têm família de origem judaica.
Puma, iFood, Molendes (do chocolate Bis) e outras marcas também suspenderam ações. E os patrocinadores que seguem financiando o programa estão sendo bombardeados nas redes sociais para encerrar seu apoio.
Além disso, convidados estariam recusando-se a participar de novas edições do podcast, enquanto outros que já passaram por lá, como Dan Stulbach, Tico Santa Cruz, Gabriela Prioli, Lucas Silveira, MV Bill, João Gordo, Diego Defante e Benjamin Back, começam a pedir para suas participações serem retiradas do ar.
Diante da repercussão, Monark publicou um vídeo pedindo desculpas. “Eu tava muito bêbado”, disse nas redes sociais. E ainda pediu compreensão.
“Queria pedir desculpas porque eu errei. Eu tava muito bêbado. Falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica e peço perdão. Mas peço também um pouco de compreensão: são quatro horas de conversa e eu estava bêbado”, ele publicou.
Para salvar o podcast, a saída foi a demissão de Monark. Uma nota com a decisão, “lamentando o episódio ocorrido”, foi publicada nas redes sociais no fim da tarde de terça, em meio à hemorragia de anunciantes.
De todo modo, a defesa do partido nazista e do “direito de ser anti-judeu” não foi a primeira polêmica racial de Monark no “Flow”. O podcast vinha perdendo patrocinadores desde que o apresentador questionou se “ter opinião racista é crime” num episódio anterior do programa.
Criado por Monark e por Igor Coelho (Igor 3K), o Flow é um dos podcasts com maior audiência do Brasil, atingindo 3,6 milhões de inscritos só no YouTube.
A polêmica acontece após a constatação de que o Spotify, onde o podcast também faz sucesso, virou um paraíso da extrema direita no Brasil, abrigando vários podcasts negacionistas sem nenhum controle.
Um dado assustador é que, desde a eleição de Bolsonaro, houve um crescimento de 270,6% no número de grupos neonazistas no Brasil, segundo um mapa elaborado pela antropóloga Adriana Dias, que revelou a existência de pelo menos 530 núcleos extremistas no país. O clima é tão perigoso que até a “cobertura” do “BBB 22” ganhou um site exclusivo em tom neonazista horripilante.
De acordo com o artigo 20 da Lei 7.716, é crime fabricar, comercializar e distribuir símbolos para divulgação do nazismo no país.
“Deveria existir um partido Nazista legalizado no Brasil”
“Se o cara for anti-judeu ele tem direito de ser Anti-judeu”
Eu tinha achado que ele tinha superado todos os limites no último papo de racismo, mas ele conseguiu se superar de um jeito… pic.twitter.com/h9Tf7g8TYg
— Levi Kaique Ferreira (@LeviKaique) February 8, 2022
— ♔ Monark (@monark) February 8, 2022
PRONUNCIAMENTO OFICIAL pic.twitter.com/p1uru0Z4iw
— Flow Podcast (@flowpdc) February 8, 2022