A programação de estreias digitais tem blockbusters, produções para crianças e terrores bem adultos. Confira abaixo 10 filmes que se destacam dentre os lançamentos das plataformas de streaming e serviços de VOD (locação digital) e garantem o melhor cinema em casa do fim de semana.
FREE GUY | STAR+
Comédia de ação com 80% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes, “Free Guy” é “O Show de Truman” da geração gamer, que explora ao máximo o carisma e o humor falastrão característicos de Ryan Reynolds (o “Deadpool”) no papel de um personagem de videogame.
Na trama, ele vive um bancário comum chamado Guy (Cara, em inglês), que é um NPC (personagem não jogável) numa cena de assalto de game. Todo dia é igual em sua vida, até que uma jogadora (Jodie Comer, de “Killing Eve”) atropela sua existência e o torna autoconsciente. Ao perceber que sua existência é artificial e criada por um programador de games (Taika Waititi, de “Jojo Rabbit”), Guy resolve ajudar outros figurantes a enfrentar as ameaças do jogo, o que se torna um problema para a diversão dos jogadores.
Cheio de easter eggs e participações especiais que só vendo para crer, o filme foi escrito por Matt Lieberman (dos novos longas animados de “A Família Addams” e “Scooby-Doo”) e marca o retorno do diretor Shawn Levy à direção, sete anos após o fracasso de seu último longa, “Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba”. Desde então, ele vinha se concentrando na atividade de produtor, inclusive da série “Stranger Things”.
MATRIX RESURRECTION | HBO MAX, NOW, VIVO PLAY, VOD*
Continuação que é mais nostálgica que inovadora, o revival de Lana Wachowski dividiu opiniões ao incorporar uma sátira metalinguística à trama e se apresentar como uma história de amor. Não são características que o público associa à franquia.
Cheia de flashbacks e personagens antigos – alguns com rostos novos – , a sci-fi vai fundo mesmo na metalinguagem, reintroduzindo o personagem de Keanu Reeves como o programador de um game chamado ‘Matrix’. A ironia faz parte da nova vida de Thomas Anderson, projetada pelas máquinas, até ser libertado por rebeldes clandestinos que ouviram falar na antiga lenda de Neo. Descobrindo que décadas se passaram, a única coisa que lhe importa é salvar Trinity (Carrie-Anne Moss), ainda aprisionada na Matrix.
MINAMATA | GLOBOPLAY
Em seu último filme americano, Johnny Depp incorpora o premiado fotojornalista W. Eugene Smith (1918–1978) durante seu derradeiro e mais importante trabalho: a denúncia de uma doença terrível criada pelo envenenamento de mercúrio no meio-ambiente. O registro, feita em 1971 na pequena vila costeira de Minamata, no Japão, chamou atenção do mundo para os efeitos horríveis dos crimes ambientais.
A doença de Minamata se originou pela negligência grosseira de uma fábrica química japonesa local. Durante décadas, a empresa despejou metais pesados na água, tornando o abastecimento tóxico. Como resultado, milhares de japoneses da região morreram ou tiveram sequelas ao consumir água e peixes contaminados. Deformidades e defeitos congênitos graves se tornaram uma ocorrência comum.
A denúncia ajudou a trazer justiça e indenizações para a comunidade, mas W. Eugene Smith pagou um preço elevado, vindo a morrer pouco depois da consagração mundial de suas fotos por sequelas de uma surra que sofreu dos capangas da indústria criminosa.
Toda esta história está contada no filme, que continua atual e relevante diante do crescimento do envenenamento por mercúrio no Brasil. O mesmo crime ambiental pode ser encontrado na expansão ilegal da mineração pelos rios da Amazônia, estimulada por inações do desgoverno, já tendo como consequência a alteração da cor das águas do rio Tapajós.
TITANE | MUBI
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2021, o terror extremo de Julia Ducournau radicaliza o estilo repulsivo de “Raw”, longa de estreia da diretora, que deu muito o que falar ao ser lançado em 2016. A trama combina terror biológico (à moda dos primeiros filmes de David Cronenberg), filme de serial killer feminina, fetiche sexual por carros e é estrelado pelo veterano Vincent Lindon (“O Valor de um Homem”) e a estreante Agathe Rousselle. Repugnante e delirante, não é um filme fácil, muito menos feito para agradar todos os gostos.
TODOS OS DEUSES DO CÉU | NOW
Outro terror francês bizarro e premiado, o filme intenso acompanha um operário que cuida da irmã, gravemente incapacitada após os dois brincarem de roleta russa na infância. Com surtos psicóticos, ele passa os dias esperando discos voadores aparecerem para levá-lo embora com sua irmã para um mundo melhor.
Repleto de imagens perturbadoras, o longa do cineasta Quarxx (“Marginal Tango”) impressiona visualmente como os primeiros filmes de Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet (pense num “Delicatessen” mais radical), enquanto conta uma história terrível sobre trauma e as cicatrizes duradouras de culpa, recriminação e loucura.
IN THE EARTH | NOW, VOD*
Rodado durante o auge da pandemia pelo diretor Ben Wheatley (do remake de “Rebecca, a Mulher Inesquecível”), o terror britânico acompanha um cientista (Joel Fry, de “Cruella”) que, com o auxílio de uma guia, adentra uma floresta em busca de colegas que desapareceram na região. Mas o que parecia uma jornada de rotina se revela um pesadelo alucinógeno, praticamente uma “Bruxa de Blair” psicodélica.
Exibido em janeiro de 2021 na programação do Festival de Sundance, o filme atingiu 79% de aprovação no Rotten Tomatoes. Mas não alcançou unanimidade entre o público, devido ao ritmo lento e a opacidade narrativa.
A VIDA DEPOIS | HBO MAX
O primeiro filme dirigido pela atriz Megan Park (“Será Quê?”) venceu o Festival SXSW com uma história intensa envolvendo trauma. O título faz referência a como a um atentado armado numa escola dos EUA afeta a vida de duas jovens sobreviventes, vividas por Jenna Ortega (“Pânico”) e Maddie Ziegler (“Amor, Sublime Amor”). A tragédia faz com que elas passem a dar mais valor a suas vidas e às pequenas coisas ao seu redor.
CLIFFORD – O GIGANTE CÃO VERMELHO | NOW, VOD*
Sucesso infantil, o longa conta a origem do cachorro criado pelo desenhista Norman Bridwell (1928–2014) e os problemas causados por seu tamanho descomunal. O humor ajuda a gerar empatia pela versão cinematográfica do bicho, que em seu primeiro teaser chegou a ser rejeitado pelos fãs das ilustrações originais.
A adaptação foi escrita por David Ronn e Jay Scherick, que já tinham levado os Smurfs ao mundo live-action em dois longas-metragens (em 2011 e 2013), e a direção é de Walt Becker, que também teve experiência anterior com bichos de CGI, no filme “Alvin e os Esquilos: Na Estrada” (2015).
A ERA DO GELO: AS AVENTURAS DE BUCK | DISNEY+
O sexto longa animado – ou primeiro spin-off – da franquia “A Era do Gelo” é o primeiro com lançamento exclusivo em streaming. A trama acompanha os irmãos gambás pré-históricos Crash e Eddie numa volta ao mundo selvagem dos dinossauros, quando eles decidem viver uma nova aventura com a doninha caolha Buck. Os demais personagens também aparecem, em pequenas participações. Mas a principal diferença da nova produção é o visual com menos detalhes – e acabamento inferior – em relação às anteriores.
Vale lembrar que a Disney se desfez do estúdio Blue Sky, que faturou mais de US$ 5 bilhões com o lançamento de 13 filmes de sucesso – incluindo as franquias “A Era do Gelo”, “Rio” e “O Touro Ferdinando”, que recebeu indicação ao Oscar, todos com direção do brasileiro Carlos Saldanha – , após comprar o conglomerado 21th Century Fox.
Com direção de John C. Donkin, que trabalhou como produtor nos filmes anteriores, o desenho destaca a participação de Simon Pegg (das franquias “Missão: Impossível” e “Star Trek”) como a voz original de Buck.
OS BEATLES E A ÍNDIA | HBO MAX
A redescoberta de preciosidades dos Beatles continua. Após a série da Apple sobre as gravações de “Let It Be” entre 1969 e 1970, a HBO Max explora a imersão de três anos da banda britânica na cultura indiana.
Dirigido pelo escritor e jornalista indiano Ajoy Bose, o documentário resgata a passagem dos Beatles pela cidade de Rishikesh, na Índia, o relacionamento com o guru Maharishi Mahesh Yogi e a influência da música indiana em seus discos, especialmente pela incorporação da cítara no arsenal de instrumentos de George Harrison.
A produção retrata a descoberta da cítara por Harrison, enquanto os Beatles filmavam a comédia “Help!”, e o uso do instrumento na canção “Norwegian Wood”, de John Lennon, em 1965, além da decisão radical do quarteto de abandonar suas vidas de celebridades no Ocidente para se refugiar num remoto local do Himalaia e explorar sua espiritualidade, o que rendeu uma explosão criativa – cerca de 50 músicas foram compostas durante o retiro.
Para completar, a produção ainda aborda o impacto do grupo sobre a juventude indiana, com influência na moda e na música do país durante os anos 1960.
* Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente nas plataformas Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft Store e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.