A Arábia Saudita deu sinais contraditórios nesta segunda-feira (6/12) ao inaugurar seu primeiro grande festival de cinema e ao proibir a exibição de “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg, no país.
O governo árabe voltou a permitir a abertura dos cinemas em 2018, após uma censura de 35 anos baseada numa visão islâmica fundamentalista, que desaprovava entretenimento público, além da mistura entre homens e mulheres no mesmo espaço público.
O anúncio do fim do veto integra um ambicioso plano de reformas do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, que busca promover espetáculos e eventos de entretenimento para se apresentar como liberal diante do Ocidente, apesar da oposição dos círculos conservadores.
De forma arrojada, o histórico festival de cinema realizado em Jidá escolheu homenagear uma cineasta saudita, Haifaa al-Mansour, primeira diretora mulher do país, cujo filme, “O Sonho de Wadjda” (2012), ganhou prêmios internacionais.
O feito é significativo, porque o conservadorismo da Arábia Saudita sempre segregou as mulheres, cujos direitos só começaram a ser reconhecidos no atual movimento modernizador do governo – a partir de 2018, elas receberam autorizações para participar de eventos esportivos e shows, e para dirigir carros!
Por outro lado, a decisão sobre o musical de Spielberg demonstra o limite da abertura. O longa não recebeu autorização para estrear nos cinemas do país por incluir um personagem transexual interpretado por Iris Menas, que se reconhece como não-binário.
Não é a primeira vez que isso acontece. “Eternos”, da Marvel, foi barrado na região por uma cena em que dois homens aparecem se beijando, e a animação “Dois Irmãos – Uma Jornada Inesperada” foi proibido por uma única cena que se referia a um casal lésbico.
Além da Arábia Saudita, os filmes citados foram proibidos em outros países árabes do Oriente Médio, como Kuwait, Omã, Emirados Árabes, Bahrein e Catar.