Depois de ouvir seu pai ser mais uma vez ofendido por Quentin Tarantino, a produtora Shannon Lee (“Warrior”), filha do ator Bruce Lee, publicou um longo desabafo na revista The Hollywood Reporter.
A briga entre Shannon Lee e Tarantino se tornou pública pela primeira vez quando ela reclamou do tratamento dado a seu pai em “Era uma Vez em… Hollywood”, após incontáveis casos de atores brancos pegaram papéis que podiam ser dele, passando-se por asiáticos.
Para a filha do ex-ator e grande mestre das artes marciais, falecido em 1973, Tarantino podia ter tentado mostrar como Lee era estereotipado, em vez de desrespeitá-lo e retratá-lo como um asiático arrogante que puxava brigas com dublês.
Na época do lançamento de “Era uma Vez… em Hollywood”, o diretor defendeu sua versão dizendo que “Bruce Lee era meio que um cara arrogante mesmo”. “O jeito que ele falava… Eu não inventei, ouvi ele falar coisas como essas. As pessoas me dizem ‘Ele nunca disse que poderia derrotar Muhammad Ali’, mas ele disse sim. E não foi só ele quem disse isso, sua esposa também. A primeira biografia dele que li foi ‘Bruce Lee: The Man Only I Knew’, de Linda Lee, e ela absolutamente disse isso.”
O assunto voltou à tona no fim de semana, quando Tarantino foi divulgar o livro que expande a história do filme – lançado na terça passada (29/6) no Brasil. Em uma entrevista para o podcast “The Joe Rogan Experience”, o diretor baixou o nível ao voltar à carga. “Eu consigo entender a filha dele ter um problema com isso [a maneira como Lee foi interpretado]. É a p*rra do pai dela, eu entendo. Mas qualquer outra pessoa, vá chupar um p**!”.
A resposta extremamente arrogante e mal-educada irritou de vez Shannon Lee, que foi convidada pelo THR a escrever uma coluna sobre a questão.
“Como vocês já sabem, a forma como Bruce Lee foi retratada em ‘Era uma vez em… Hollywood’ pelo Sr. Tarantino, na minha opinião, foi pouco fiel e desnecessária, para dizer o mínimo (por favor, não vamos culpar o ator Mike Moh. Ele fez o que pôde com o que lhe foi dado). E embora eu esteja grata que o Sr. Tarantino tenha reconhecido tão generosamente a Joe Rogan que eu possa ter meus sentimentos sobre sua representação de meu pai, eu também sou grata pela oportunidade de poder expressar o seguinte: estou cansada pra c*ralho de homens brancos em Hollywood tentando me dizer quem era Bruce Lee”, escreveu Shannon.
“Estou cansada de ouvir de homens brancos de Hollywood que ele era arrogante e um c*zão, quando eles não têm ideia e não conseguem entender o que pode ter sido necessário para conseguir trabalho em Hollywood nos anos 1960 e 1970 para um homem chinês com um (Deus o livre) sotaque, ou tentar expressar uma opinião em um set de filmagens sendo encarado como um estrangeiro e uma pessoa de cor”, continuou.
“Estou cansada de homens brancos de Hollywood confundindo sua confiança, paixão e habilidades com arrogância e, logo, achando necessário diminuí-lo, assim como suas contribuições. Estou cansada de homens brancos de Hollywood acharem muito desafiador acreditar que Bruce Lee pode ter sido bom no que fazia e que talvez soubesse fazê-lo melhor que eles”.
“Estou cansada de ouvir de homens brancos de Hollywood que ele não era um lutador de artes marciais e que só fazia isso para os filmes. Meu pai vivia e respirava artes marciais. Ele ensinava artes marciais, escrevia sobre artes marciais, criou sua própria arte marcial”, reforçou. “E, já que estamos aqui, estou cansada de me dizerem que ele não era americano (ele nasceu em São Francisco, Califórnia), que ele não era amigo de James Coburn, que ele não era bom com os dublês, que ele saía chamando as pessoas para brigas em sets de filmagens, que minha mãe disse em seu livro que meu pai acreditava que ele venceria Muhammad Ali (não é verdade), que tudo o que ele queria era ser famoso, e muito mais”.
Ela finaliza com uma ressalva: “Claro, isso não se aplica a todos os homens brancos de Hollywood. Eu trabalhei com alguns colaboradores e parceiros maravilhosos. Mas encontrei muitos deles ao longo dos anos (e não só em Hollywood) que querem explicar Bruce Lee para mim e usam Bruce Lee quando e como lhes agrada sem reconhecer sua humanidade, seu legado ou sua família”.