O sambista Nelson Sargento morreu nesta quinta (27/5) aos 96 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência da covid-19. Ele estava internado desde o dia 20 e havia sido transferido para a UTI no último sábado (22/5) já com um quadro considerado grave.
O músico havia recebido as duas doses da vacina contra a covid-19 em fevereiro, no Rio de Janeiro. Mas um novo estudo da Vebra Covid-19 divulgado em 18 de maio apontou que a efetividade da vacina entre os que têm mais de 80 anos é menor que a eficácia global de 50,7% encontrada nos estudos do Instituto Butantan.
Nelson era compositor dos sambas-enredo da Mangueira, onde chegou com 18 anos. Ele também desfilou ininterruptamente pela escola de samba até o Carnaval de 2020.
No Carnaval de 2019, quando a Mangueira conquistou seu último título com um enredo que enfocava personagens esquecidos pelos livros de história, Nelson desfilou representando Zumbi dos Palmares.
Parceiro de bambas como Cartola, Carlos Cachaça, Zé Kéti e Paulinho da Viola, foi fundador com os antigos companheiros do Voz do Morro, grupo musical que trouxe o samba dos morros para o asfalto nos anos 1960, popularizando a música que então tocava nas favelas cariocas.
Ao todo, compôs mais de 400 canções e lançou cerca de 30 discos. Seu repertório eternizou clássicos da música brasileira, como “Ciúme Doentio” (em parceria com Cartola), “Encanto da Paisagem”, “Deixa”, “Falso Amor Sincero” e o grande sucesso “Agoniza, Mas Não Morre”.
Mas além de ser reconhecido pela vasta contribuição musical, Nelson Sargento também foi artista plástico, escritor e ator.
Ele estrelou a minissérie “Presença de Anita”, em que interpretou Seu João, funcionário da fazenda onde a trama de 2001 foi retratada, além de ter atuado em filmes como “Dente por Dente” (1994), “O Primeiro Dia” (1998) e “Orfeu” (1999).
Em “Orfeu”, remake do clássico “Orfeu Negro” e grande homenagem ao samba dos morros, interpretou a si mesmo, Nelson Sargento, um mestre do gênero musical que por muitos anos foi o som oficial do Rio de Janeiro.
Mais recentemente, voltou a viver a si mesmo numa participação na novela “A Força do Querer” (2017), que foi reprisada durante a pandemia no horário nobre na Globo. Na época, foi muito tietado pelas atrizes da trama, inclusive Isis Valverde e Maria Fernanda Candido.
Sua carreira foi colocada em perspectiva num documentário, “Nelson Sargento: Mémoria do Samba”, de 2012, que ele conseguiu apreciar ainda em vida.