A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês) anunciou a expulsão de Philip Berk, ex-presidente da entidade responsável pelo Globo de Ouro, após o vazamento de uma mensagem de e-mail considerada racista.
“Com efeito imediato, Phil Berk não é mais membro da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood”, disse de forma sucinta o conselho da HFPA em um comunicado divulgado na tarde desta terça-feira (20/4). A decisão foi tomada após a associação ser pressionada pela rede NBC, que exibe o Globo de Ouro na TV, e a MRC, dona da Dick Clark Productions, que produz o evento. As duas empresas exigiram a expulsão de Berk.
Aos 88 anos e até esta manhã membro da HFPA, Berk encaminhou um e-mail aos colegas no domingo (18/4) chamando o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), criado para protestar contra o extermínio de negros pela polícia dos EUA, de “um movimento de ódio racista”. Não satisfeito, ainda comparou uma das líderes do movimento ao psicopata Charles Manson.
No texto, o jornalista sul-africano criticou Patrisse Cullors, uma das fundadoras do Black Lives Matter, por supostamente comprar uma casa no Topango Canyon. “A propriedade se localiza na mesma rua de uma das casas envolvidas nos assassinatos de Charles Manson, o que é apropriado, já que o objetivo dele era começar uma guerra racial. Este trabalho é continuado pelo Black Lives Matter hoje em dia”, disparou Berk.
O conteúdo do e-mail, revelado pelo jornal Los Angeles Times, criou ainda mais atrito por virado assunto no dia em que o policial Derek Chauvin foi condenado pelo assassinato de George Floyd, homem negro que foi asfixiado até a morte por nove minutos, sob custódia policial no estado de Minneapolis, nos Estados Unidos. O homicídio foi o estopim para os principais protestos do Black Lives Matter.
Embora tenha sido rapidamente condenado por outros membros da organização como “racista”, “vil” e “não apropriada”, a opinião de Berk ajuda a explicar o motivo da falta de integrantes negros no HFPA.
Não por acaso, a nova controvérsia acendeu o sinal amarelo para o cancelamento do Globo de Ouro. Literalmente. A rede NBC, que se manifestou prontamente, estaria avaliando encerrar seu contrato para exibir a premiação.
A HFPA meteu-se em uma série de polêmicas neste ano após sua seleção de indicados para o Globo de Ouro 2021 se provar completamente desconectada da realidade, sem destaque para filmes de temáticas negras. A situação se agravou após o Los Angeles Times trazer à luz detalhes de sua organização pouco transparente, como um histórico de subornos aceitos por seus membros e a completa ausência de integrantes negros em seus quadros.
Pressionada por movimentos sociais e agentes de talentos, que ameaçaram impedir que atores famosos fossem ao próximo Globo de Ouro, a HFPA jurou que faria mudanças em seus quadros para refletir melhor a sociedade. As mudanças, consideradas insuficientes por ativistas, ainda não aconteceram e há uma reunião marcada para 5 de maio com vários representantes de astros de Hollywood que pode definir o futuro do prêmio.
A HFPA tem o hábito de anunciar medidas que nunca toma. O próprio Berk é um exemplo disso, afinal não foi a primeira vez que ele cria constrangimento para a instituição.
O e-mail foi o terceiro problema criado pelo sul-africano para a HFPA. Anteriormente, ele chegou a tirar licença após a repercussão de um livro de memórias que lançou em 2014 e que deixou a organização mal com vários artistas. E, em 2018, foi denunciado por assédio sexual pelo ator Brendan Fraser. Segundo o astro de “A Múmia”, Berk apalpou seu bumbum sem permissão durante um evento do Globo de Ouro. A HFPA chegou a dizer que estava investigando a acusação, mas nenhuma ação foi tomada contra seu ex-presidente. Ele continuou votando no Globo de Ouro e influenciando a premiação.