Globo de Ouro abafa protestos com risos amarelos e troféus dourados. Veja quem venceu

Deu “Nomadland” e “Borat: Fita de Cinema Seguinte” na premiação de cinema do Globo de Ouro 2021. “The Crown”, “Schitt’s Creek” e “O Gambito da Rainha” venceram na TV. E nenhuma das […]

Instagram/Golden Globes

Deu “Nomadland” e “Borat: Fita de Cinema Seguinte” na premiação de cinema do Globo de Ouro 2021. “The Crown”, “Schitt’s Creek” e “O Gambito da Rainha” venceram na TV. E nenhuma das produções ruins que disputavam troféus foi premiada. Nenhuma manifestação de protesto ocupou as telas. O Globo de Ouro da polêmica se transformou na premiação dos risos amarelos.

Militantes nas redes sociais, astros preferiram prestigiar e agradecer a Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood ao vivo, na noite de domingo (28/2), a cada troféu conquistado. Nem parecia que, horas antes, reclamavam nas redes sociais contra a falta de inclusão do prêmio.

De repente, Chlóe Zhao, a diretora de “Nomadland”, o Melhor Filme de Drama, se tornou a segunda mulher a vencer o Globo de Ouro de Melhor Direção em 78 anos da premiação… De repente, todas as categorias com atores negros na disputa consagraram esta opção. John Boyega (“Small Axe”), Daniel Kaluuya (“Judas e o Messias Negra”), Andra Day (“Estados Unidos Vs Billie Holiday”) e o falecido Chadwick Boseman (“A Voz Suprema do Blues”) foram celebrados como se simbolizassem a representatividade do evento. A cantora Andra Day, inclusive, foi a primeira negra ganhadora do Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama em 35 anos!

Representatividade? Ou ação rápida para disfarçar o elefante no palco, que foi abordado logo na abertura pelas apresentadoras Tina Fey e Amy Poehler?

“A Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood é formada por cerca de 90 jornalistas internacionais – nenhum negro – que comparecem a encontros de cinema todos os anos em busca de uma vida melhor”, afirmou Fey. “Dizemos por volta dos 90, porque alguns deles podem ser fantasmas e há rumores de que o membro alemão é apenas uma salsicha em que alguém desenhou um pequeno rosto”.

Poehler disse: “Todo mundo está compreensivelmente chateado com a Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood e suas escolhas. Olha, muito lixo espalhafatoso foi nomeado. Mas isso acontece. Isso é coisa deles. Mas vários atores negros e projetos liderados por negros foram esquecidos”.

Fey acrescentou: “Todos nós sabemos que premiações são estúpidas. A questão é que, mesmo com coisas estúpidas, a inclusão é importante e não há membros negros na Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood”.

As duas instaram a organização a incluir membros negros em suas fileiras.

Quando os líderes da organização subiram ao palco, comprometeram-se envergonhadamente a melhorar sua representatividade, sem fornecer muitos detalhes sobre que reformas aconteceriam.

“Reconhecemos que temos nosso próprio trabalho a fazer”, disse a vice-presidente da Associação, Helen Hoehne. “Assim como no cinema e na televisão, a representação negra é vital. Devemos ter jornalistas negros em nossa organização”. E o presidente do grupo, Ali Sar, acrescentou que “esperamos um futuro mais inclusivo”, numa declaração genérica sem o menor senso de urgência.

E foi isso. Os discursos protocolares que se seguiram, de cada vencedor, parecia refletir cenas de “The Crown”, produção francamente favorita dos membros da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood, que faturou quatro Globos de Ouro, inclusive Melhor Série de Drama.

Um dos raros contrastes no tom apreciativo veio na segunda aparição de Sasha Baron Cohen, que lembrou de agradecer ironicamente “aos integrantes da Associação Totalmente Branca da Imprensa Estrangeira em Hollywood” por suas vitórias – como Melhor Ator de Comédia e responsável pelo Melhor Filme de Comédia (“Borat: Fita de Cinema seguinte”).

Notoriamente engajada, Jane Fonda, que recebeu uma homenagem pela carreira, também fez um aparente aceno à crise de diversidade da premiação, argumentando que Hollywood precisava fazer mais para oferecer oportunidades para mulheres e pessoas de cor. “Vamos todos nos esforçar para expandir essa tenda, para que todos se levantem e a história de todos tenha a chance de ser vista e ouvida”, disse ela, animando a colega Viola Davis, vista comemorando o comentário na edição televisiva.

Entre a contenção de danos de imagem, o Globo de Ouro só não conseguiu evitar a atenção criada pela quantidade de agradecimentos feitos à Netflix, que chegou a evocar os velhos tempos da Miramax, quando Harvey Weinstein (ele mesmo) recebia mais citações que Deus no discurso dos vencedores, após investir fortunas nas conquistas de seus filmes.

A Netflix levou mais da metade dos prêmios televisivos: 6 dos 11 troféus disponíveis. Amazon e Apple ficaram com um cada um, o que ajudou a tornar o domínio do streaming amplo na premiação.

O mesmo domínio se repetiu nas categorias de cinema, onde a Netflix foi a distribuidora que mais conquistou vitórias: quatro. Chadwick Boseman garantiu um prêmio como Melhor Ator de Drama por “A Voz Suprema do Blues”, Rosamund Pike venceu como Melhor Atriz de Comédia por “Eu Me Importo”, Aaron Sorkin foi o Melhor Roteirista por “Os 7 de Chicago” e a dupla Diane Warren e Laura Pausini emplacou o troféu de Melhor Canção por “Rosa e Momo”.

O Globo de Ouro não é considerado um indicador de rumos para o Oscar. No ano passado, os vencedores foram “1917” e “Era uma vez em Hollywood”, que perderam para “Parasita” na premiação da Academia. Mas este ano, mais que nos anteriores, a decisão de barrar filmes sobre a experiência negra, como “Destacamento Blood”, “Uma Noite em Miami”, “Judas e o Messias Negro”, “A Voz Suprema do Blues”, “Estados Unidos Vs Billie Holiday” e até mesmo a história asiática de “Minari – Em Busca da Felicidade”, da disputa de Melhor Filme, deixa o termômetro do Globo de Ouro totalmente imprestável.

Veja abaixo a lista completa dos premiados.

CINEMA

Melhor Filme – Drama
“Nomadland”

Melhor Filme – Comédia ou Musical
“Borat: Fita de Cinema Seguinte”

Melhor Direção
Chloé Zhao (“Nomadland”)

Melhor Ator – Drama
Chadwick Boseman (“A Voz Suprema do Blues”)

Melhor Atriz – Drama
Andra Day (“Estados Unidos Vs Billie Holiday”)

Melhor Ator – Comédia ou Musical
Sacha Baron Cohen (“Borat: Fita de Cinema Seguinte”)

Melhor Atriz – Comédia ou Musical
Rosamund Pike (“Eu Me Importo”)

Melhor Ator Coadjuvante
Daniel Kaluuya (“Judas e o Messias Negra”)

Melhor Atriz Coadjuvante
Jodie Foster (“The Mauritanian”)

Melhor Roteiro
Aaron Sorkin (“Os 7 de Chicago”)

Melhor Trilha Original
Trent Reznor, Atticus Ross, Jon Batiste (“Soul”)

Melhor Canção Original
“Io Si (Seen)” (de “Rosa e Momo”) – Diane Warren, Laura Pausini, Niccolò Agliardi

Melhor Animação
“Soul”

Melhor Filme de Língua Estrangeira
“Minari – Em Busca da Felicidade” (EUA)

TELEVISÃO

Melhor Série – Drama
“The Crown”

Melhor Série – Comédia ou Musical
“Schitt’s Creek”

Melhor Minissérie ou Telefilme
“O Gambito da Rainha”

Melhor Ator – Drama
Josh O’Connor (“The Crown”)

Melhor Atriz – Drama
Emma Corrin (“The Crown”)

Melhor Ator – Comédia
Jason Sudeikis (“Ted Lasso”)

Melhor Atriz – Comédia
Catherine O’Hara (“Schitt’s Creek”)

Melhor Ator – Minissérie ou Telefilme
Mark Ruffalo (“I Know This Much Is True”)

Melhor Atriz – Minissérie ou Telefilme
Anya Taylor-Joy (“O Gambito da Rainha”)

Melhor Ator Coadjuvante – Minissérie ou Telefilme
John Boyega (“Small Axe”)

Melhor Atriz Coadjuvante – Minissérie ou Telefilme
Gillian Anderson (“The Crown”)