A atriz Renata Peron viveu na pele o tema abordado pela série “Rotas do Ódio”, que teve suas três temporadas lançadas na Globoplay na semana passada. Em 2004, ela andava pela Praça da Sé, em São Paulo, quando foi brutalmente espancada por um grupo de skinheads simplesmente por ser transexual.
Além do trauma emocional, ela perdeu um dos rins e carrega até hoje uma cicatriz na barriga por conta da violência sofrida aos 27 anos.
“É um trauma muito grande você ser agredida por ser quem você é. Eu demorei anos para conseguir superar esse trauma, mas hoje, aos 43 anos, posso dizer que consegui. Acabei entendendo que o problema não sou eu, mas a sociedade ruim e emburrecida em que vivemos”, ela disse à coluna de Patricia Kogut, no jornal O Globo.
“Fisicamente, ainda carrego algumas marcas. Preciso beber três litros de água por dia, para que o meu único rim continue funcionando bem. Também não uso mais biquíni e nada que mostre a minha barriga, pois tenho vergonha da grande cicatriz que ficou”, acrescentou.
Foi por conta da agressão que Renata conheceu a diretora Susanna Lira, criadora da série. Susana entrevistou Renata para o documentário “Intolerância.doc”, lançado em 2017 com o tema dos crimes de ódio. E, ao saber que ela era atriz, decidiu convidá-la para o elenco de seu próximo projeto, “Rotas do Ódio”.
“A série é um trabalho maravilhoso. Não tive qualquer problema em abordar um assunto que marcou tanto a minha vida. Já passei por tanta coisa nessa vida que acabei criando uma couraça, sabe?”, contou a atriz.
A 1ª temporada estreou em 2018 no canal pago Universal, mas a produção passou a repercutir com mais força com o lançamento na Globoplay. “A minha caixa de mensagem nas redes sociais e o meu e-mail estão uma loucura. Parece até que a série foi o primeiro trabalho da minha vida como atriz. Por incrível que pareça, muitas pessoas sabem que eu vivo das artes, mas acham que eu sou apenas do gueto e, por isso, não tenho valor. Foi preciso aparecer numa série de TV com destaque para que reconhecessem esse valor”, disse Renata.
Atualmente, Renata vive a expectativa por uma possível nova temporada de “Rotas do Ódio”. Mas ela também é cantora, formada em assistência social e militante dos direitos humanos.