Após 30 anos impedindo sua exibição, Xuxa disse no “Fantástico” de domingo (1/11) que as pessoas deveriam ver o filme “Amor, Estranho Amor”, do qual participou em 1982, aos 18 anos de idade. O longa ganhou a fama de pornográfico (apesar de classificado para maiores de 14 anos) por trazer Xuxa seduzindo um menino de 12 anos.
Dirigido por Walter Hugo Khouri (1929-2003) em 1982, o drama com toques de erotismo – como praticamente toda a produção do cinema nacional da época – trazia a futura Rainha dos Baixinhos – então modelo, aspirante a atriz e namorada do jogador Pelé – como uma garota de programa, que também seria menor de idade. Além de cenas de nudez, Xuxa simulava sexo com o garoto.
Xuxa se arrependeu do papel após passar a apresentar programas infantis, primeiro na TV Manchete e depois na Globo, e deu início a uma disputa legal com os produtores para impedir que o filme voltasse aos cinemas. Sua última vitória para impedir o relançamento foi em 2013, mas, segundo sua assessoria, ela desistiu do bloqueio em 2018 e o lançamento está liberado.
“Quem não viu o filme, por favor, veja”, recomendou Xuxa, agora com 57 anos, em entrevista à repórter Renata Ceribelli. “Porque esse filme fala de uma coisa muito atual, que é a exploração infantil, isso é a realidade de muita gente. Não é minha realidade, mas é a realidade de muita gente. Então, antes das pessoas me criticarem, as pessoas deveriam saber que isso existe, diariamente, nesse país e no mundo todo, mas, principalmente, nesse país. Muitos meninos e meninas são vendidas, vendidos e vendidas para políticos, para pessoas que se dizem que têm poder, então, isso é muito importante as pessoas falaram, sim, desse filme.”
Ela também abordou a má fama conquistada pelo papel que desempenhou na produção. “Cada vez que eu falo sobre isso as pessoas levantam essa bandeira, dizendo: mas você transou com um garoto de 12 anos num filme. Então, vamos lá: eu não transei, aquilo é ficção, é ficção, senão, o Arnold Schwarzenegger deveria estar preso, porque matou um monte de gente nos filmes dele”, disse Xuxa.
A mudança de opinião pode estar relacionada com a derrota judicial de Xuxa no processo em que tentou impedir que o Google indexasse o filme. Em maio de 2017, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rejeitou por unanimidade um recurso da apresentadora, sob o argumento que isso poderia caracterizar censura prévia. Após a decisão, os advogados de Xuxa recorreram ao Supremo e o ministro Celso de Mello negou seguimento do recurso.
Além disso, a vida de Xuxa vai virar filme em breve, e será impossível contar sua história sem lembrar de “Amor, Estranho Amor”.
No “Fantástico”, a apresentadora também falou sobre diversidade, expressando sua vontade de que tivesse havido paquitas não-louras, e comentou abertamente sua sexualidade, após se dedicar a escrever um livro infantil LGBTQ+: “Maya: Bebê Arco-Íris”, sobre um anjinho que escolhe vir à Terra como filha de um casal de lésbicas.
Perguntada se já havia se apaixonado por uma mulher, Xuxa foi direta: “Não, mas se eu me apaixonasse, com certeza, todo mundo iria saber.”
Sobre o lançamento infantil, Xuxa ainda disse: “A Maya veio pra mostrar que Deus é amor, que não tem preconceito, que não tem discriminação. Preconceito e discriminação vêm do homem, não de Deus. Dois homens podem se amar, um homem e uma mulher, duas mulheres, eu acho que a gente não tem que botar um rótulo nisso daí. Amor é amor, não importa o sexo.”