Regina Duarte teria sido “enquadrada” por Jair Bolsonaro na presença de outras pessoas durante uma reunião da pasta da Cultura em Brasília nesta quarta (6/5). Segundo Daniel Adjuto, da CNN Brasil, o presidente disse à secretária da Cultura: “ou você adere às minhas ideias, ao meu governo, que é conservador, ou a porta está aberta”, nas palavras do jornalista.
O canal pago também apurou que o ator ex-“Malhação” Mário Frias chegou a ser sondado para o lugar de Regina, que estaria sendo “fritada” pelo governo para pedir demissão.
Em entrevista à CNN Brasil, Frias não confirmou a sondagem, mas se disse pronto para assumir a secretaria da Cultura.
“Tem coisas na vida que a gente não escolhe. Essa é uma delas. Não tenho medo. Tenho vontade, é a minha área, não tenho pretensão nenhuma de ser o dono da verdade. Tenho muitos amigos que seriam o alicerce para um grande trabalho”, afirmou Frias, que parabenizou os recentes atos pró-governo, dizendo-se emocionado pelas manifestações que pediram fechamento do Congresso, do STF e ainda tiveram agressões a jornalistas.
A revista digital Crusoé também ouviu de assessores presidenciais que Bolsonaro exigiu o alinhamento da atriz. Segundo esses relatos, Bolsonaro disse que foi eleito para cumprir uma agenda conservadora e que, se ela discordasse desses valores, poderia pedir para deixar o cargo.
Ainda de acordo com a Crusoé, Bolsonaro disse a aliados ter perdido a paciência com a atriz. Ele já teria manifestado várias vezes sua insatisfação com nomeações de pessoas “de esquerda” para a secretaria. O presidente reclamou, em especial, que Regina estaria acatando recomendações de Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura do governo João Doria, um de seus principais adversários políticos.
O governo tem paralisado a pasta da Cultura por conta dessas picuinhas. Há duas semanas, Bolsonaro mandou demitir o pesquisador Aquiles Brayner, indicado por Regina para a diretoria do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas. Ele caiu apenas três dias após sua nomeação, sob pressão de perfis radicais nas redes sociais.
Regina Duarte também não conseguiu nomear seu favorito ao posto de número dois da secretaria, o gestor público e produtor Humberto Braga, que igualmente foi alvo de uma campanha nas redes sociais com acusações de ser um “esquerdista” tentando se infiltrar no governo.
Ela enfrenta resistência até às suas demissões. Afastado no dia da posse de Regina, olavista Dante Mantovani, que acredita que rock é coisa do diabo, foi readmitido como presidente da Funarte por algumas horas na terça-feira (5/5). De manhã, virou novamente chefe da fundação, mas no fim do dia voltou a ser exonerado. Nenhum dos dois atos teve maiores explicações.
Esses fatos são exemplos da sabotagem sofrida cotidianamente por Regina à frente da pasta. Mas não fica só nisso. O próprio presidente dá respaldo para que até subalternos da secretária, como Sérgio Camargo, a achincalhem nas redes sociais.
Não por acaso, Bolsonaro convidou pessoalmente Camargo, o polêmico diretor do Instituto Palmares e desafeto de Regina, para participar da reunião com a secretária. Camargo nem sabia do que se tratava. “Ele me ligou, obviamente aceitei o convite”, disse ao jornal O Globo.
Ao sair do encontro, Camargo declarou à CNN que Regina Duarte “veio para morar em Brasília”, revelando que ela optou por se submeter, como fizeram alguns ministros antes de serem demitidos.
Enquanto isso, aliados do presidente seguem espalhando nas redes sociais que a atual secretária está com os dias contados. Nesta quarta, simpatizantes de Bolsonaro, do AI-5 e do coronavírus subiram a hashtag #ForaRegina.
“Espero que o senhor tenha dado uma boa enquadrada na ‘namoradinha do Brasil’ hoje”, escreveu um radical da seita. “Ou ela cumpre com o programa que elegemos nas urnas, ou então, deve ser exonerada imediatamente! #ForaRegina”. “#ForaRegina. O do Turismo tiramos depois!”, acrescentou outro, já preparando a próxima campanha.
Nunca é demais lembrar que, para assumir o cargo de secretária de Cultura, Regina atendeu a um pedido pessoal de Jair Bolsonaro e precisou encerrar sua relação contratual de mais de 50 anos com a rede Globo. Ela abriu mão de sua carreira, benefícios e um salário muito maior para atender ao apelo do presidente, acreditando em promessas de “carta branca e porteira aberta” que não foram cumpridas.
Mas se sair reclamando, vai virar só mais um Judas (entre muitos) a trair o Messias do Planalto, na perspectiva peculiar de quem trata jornalismo como fake news e fake news como informação.