Quibi encalha e fundador da plataforma culpa coronavírus

O fundador da plataforma Quibi, Jeffrey Katzenberg, assumiu estar lidando com uma decepção diante dos números de pessoas interessadas no seu produto, lançado durante a pandemia de coronavírus. O aplicativo da Quibi […]

Divulgação/Quibi

O fundador da plataforma Quibi, Jeffrey Katzenberg, assumiu estar lidando com uma decepção diante dos números de pessoas interessadas no seu produto, lançado durante a pandemia de coronavírus.

O aplicativo da Quibi teve 1,7 milhão de downloads em sua primeira semana. Mas desde a estreia em 6 de abril, mantém apenas uma base de 1,3 milhão de “usuários ativos”.

Graças à baixa demanda, saiu rapidamente da lista dos 50 aplicativos gratuitos mais baixados da Apple Store. Pior que isso: não está nem entre os 100. Atualmente, encontra-se encalhado em 125º lugar.

Mesmo com uma campanha que oferece teste gratuito por 90 dias, e prometendo um dos custos mais baixos dos streamings (US$ 4,99 por mês com anúncios), a plataforma não emplacou.

“Atribuo tudo que deu errado ao coronavírus”, disse Katzenberg em entrevista ao jornal The New York Times, publicada na segunda-feira (12/5). “Tudo. Mas nós assumimos nossa parte”.

O ex-executivo da Disney e criador da DreamWorks Animation disse que o público do Quibi realmente não é “a avalanche de pessoas que queríamos”. “Não é nem perto do que queríamos”, admitiu.

Quibi aspirava ser uma Netflix de celular, com conteúdo feito exclusivamente para dispositivos móveis.

A proposta faz parte do próprio nome da plataforma, formado pela junção das primeiras sílabas das palavras “quick” (ligeiro) e “bites” (pedaços). O nome também foi transformado em sinônimo de conteúdo rápido nos comerciais americanos de seu lançamento.

O conceito do novo serviço era apresentar programas de até 10 minutos, tendo como público-alvo todos que têm um celular e que consomem vídeos curtos em transportes públicos ou durante pausas no expediente para tomar um café e ir ao banheiro. Só que as pessoas foram desaconselhadas a usar transportes públicos. E o ambiente de trabalho virou home office.

Embora o tempo gasto nas plataformas de streaming tenha disparado à medida que os consumidores se distanciam socialmente, a opção de lazer para quem está em quarentena tem sido assistir filmes e maratonar séries pela televisão e não ver vídeos curtos pelo celular.

O sucesso do Quibi dependia, basicamente, de mudar os hábitos de consumo de séries influenciados pela popularização da Netflix, com os “binges” – ou maratonas – de várias horas dedicadas a um mesmo programa. Já era uma opção arriscada, por ir contra um padrão bem-sucedido, e se tornou impraticável diante do aumento do número de horas disponíveis para o público se dedicar ao conteúdo de streaming.

A ideia de “filmes em capítulos”, que define a maioria das séries de ficção da empresa, também criou um vício narrativo, ao programar uma situação de perigo a cada 10 minutos, no fim de cada episódio. Nisso, o Quibi se provou mais retrô que moderno, por evocar os antigos seriados de aventura dos anos 1930 e 1940 – que batizaram o termo “cliffhanger”.

Mas apesar de todo o revés, Katzengerg disse não ter se arrependido de lançar o aplicativo durante o coronavírus. “Se soubéssemos em 1º de março, quando tivemos que tomar a decisão, o que sabemos hoje, eu diria que não era uma boa ideia”, ele ponderou. “Mas estamos produzindo ouro suficiente com o feno que temos, de modo que não me arrependi”.

Ele acrescentou: “Minha esperança, minha crença era que ainda haveria muitos momentos intermediários enquanto nos protegíamos em casa… Ainda existem esses momentos, mas não é a mesma coisa. Estamos fora de sincronia”.

Katzenberg ainda espera virar o jogo com algumas inovações. Muito criticada por não permitir que assinantes pudessem assistir a seu conteúdo na TV, a Quibi já permite que os usuários do iPhone vejam suas atrações em telas maiores, e a mesma atualização chegará e breve aos usuários do Android. Ao mesmo tempo, a empresa está trabalhando em novas projeções de receita, com margens menores, que já levaram a cortes em seu orçamento de marketing.

Só que enquanto o Quibi empaca, outras plataformas novas traçam histórias diferentes no competitivo mundo do streaming.

Quando confrontado sobre o sucesso do TikTok, uma plataforma social que também usa vídeos curtos, Katzenberg se mostrou irritado. “É como comparar maçãs com submarinos”, disse ele ao Times. “Não sei o que as pessoas esperam de nós. Como era a Netflix em seus primeiros 30 dias após o lançamento? Para me falar de uma empresa que tem um bilhão de usuários e está se saindo bem nas últimas seis semanas, estou feliz por eles, mas o que diabos isso tem a ver comigo?”

O Quibi também está disponível no Brasil, onde chegou sem alarde no mesmo dia em que o serviço foi inaugurado nos EUA.