Petra Costa diz que coronavírus revela “ódio pela humanidade” de alguns políticos

A cineasta Petra Costa, indicada ao Oscar 2019 pelo documentário “Democracia em Vertigem”, apresentou uma masterclass de três horas em streaming no festival de cinema suíço Visions du Reél, na quinta-feira (30/4), […]

A cineasta Petra Costa, indicada ao Oscar 2019 pelo documentário “Democracia em Vertigem”, apresentou uma masterclass de três horas em streaming no festival de cinema suíço Visions du Reél, na quinta-feira (30/4), em que falou de seu próximo projeto, o documentário “Distopia”, sobre as consequências da pandemia do novo coronavírus.

Falando sobre o aspecto político da covid-19, ela diz ter constatado que a doença deixou claro o fascismo de alguns líderes políticos, especialmente no Brasil.

“Eu acho que a pandemia revela muito do que não era óbvio para todos: essa retórica fascista estava escondida atrás da retórica do ódio pelo diferente, pela esquerda, pelo Partido dos Trabalhadores, pelos artistas, gays, mulheres”, opinou a cineasta, em registro da revista Variety. “O que o coronavírus mostra é que se trata de um ódio pela humanidade. Um desejo por morte”, apontou.

O novo filme de Petra Costa, cujo título veio à tona na palestra, é um filme sobre o isolamento social a partir do ponto de vista da população brasileira, conforme atravessa o atual período. Para reunir as imagens, ela fez um pedido em suas redes sociais para que pessoas de todo o país encaminhassem vídeos com seus cotidianos e testemunhos da pandemia.

“Estamos coletando narrativas e perspectivas de várias pessoas sobre suas quarentenas. Eu convido a qualquer um que queira compartilhar suas imagens e vamos pagar por tudo caso as utilizemos. Adoraríamos compor um mosaico com as mais variadas visões”, ela explicou.

Contatos e vídeos devem ser encaminhados para o email dystopia@buscavidefilmes.com.

A tendência é que o resultado seja tão polarizador quanto “Democracia em Vertigem”, pois o Brasil jamais deixou de lado a polarização desde o Impeachment de Dilma Rousseff, culminando na eleição de Jair Bolsonaro à presidência.

Na palestra, Petra explicou que “Democracia em Vertigem” foi resultado de seu tempo. “O filme só poderia ser polarizador porque o que aconteceu era polarizador. Construíram um muro em frente ao Congresso. Qualquer filme sobre o que aconteceu no Brasil nos últimos cinco anos seria polarizador”, explicou.

“Eu já estava lidando com essa divisão dentro da minha própria família e como encontrava essa contradição do Brasil ali”, relembrou.

Sobre a possibilidade de uma continuação de seu documentário mais famoso e premiado, Petra deixou a questão em aberto. “É algo que me assombra também. Não tenho resposta para isso ainda”, admitiu.