É oficial: a Netflix é a nova proprietária do Egyptian Theatre, um dos “palácios de cinema” mais antigos de Hollywood. O preço de venda não foi divulgado, mas o acordo permite ao ex-proprietário, a American Cinematheque (Cinemateca Americana), continuar a programar o cinema histórico nos fins de semana, após a superação da pandemia de coronavírus.
Localizado no coração de Hollywood, mais exatamente no número 6706 da Hollywood Boulevard, o cinema foi inaugurado em 1922 e serviu de palco para a primeira première hollywoodiana, com o lançamento de “Robin Hood” (1922), estrelada por Douglas Fairbanks. Concebido pelo artista Sid Grauman e pelo desenvolvedor imobiliário Charles E. Toberman, o “cinema egípcio” acabou servindo de modelo para o lançamento do “cinema chinês” na mesma avenida. Inaugurado por Grauman em 1928, o Chinese Theater acabou se tornando mais popular, graças à sua calçada com a impressão de mãos e pés de astros famosos – costume que teria começado por acidente durante a construção.
O Egyptian Theatre foi adquirido pela organização cultural American Cinematheque em 1998, após passar seis anos fechado durante um período de decadência da região de Hollywood.
Há uma ironia na aquisição, porque ao restaurar o cinema nos anos 1990, a Cinematheque dividiu a grande sala original em duas, batizando o espaço menor de sala Steven Spielberg. É o nome do célebre diretor que se manifestou contra a participação dos filmes da Netflix na disputa pelo Oscar deste ano.
A Netflix pretende agora usar o local para realizar as premières dos filmes que pretende lançar na disputa das próximas edições do Oscar. Por sinal, a ideia de comprar o Egyptian surgiu, justamente, da experiência positiva da plataforma com a première de “Roma” no local. O filme de Alfonso Cuarón acabou vencendo quatro Oscars – o fato que teria incomodado Spielberg.
Além das premières, a Netflix vai programar exibições e eventos especiais, de segunda a quinta, em seu espaço físico.
“A American Cinematheque teve a honra de trazer de volta à vida Egyptian Theatre em 1998, e, juntamente com a Netflix, estamos entusiasmados em continuar essa administração, restaurando-a mais uma vez para uma nova geração de fãs de cinema assistirem filmes na tela grande”, disse o presidente da American Cinematheque, Rick Nicita, em comunicado sobre o negócio.
A venda levou mais de um ano para ser finalizada, pois a Cinematheque é uma organização sem fins lucrativos, que comprou o marco histórico por um preço simbólico (US$ 1) da agora extinta Autoridade de Reconstrução de Los Angeles. Posteriormente, a organização investiu quase US$ 13 milhões para restaurar o antigo palácio do cinema.
“O amor pelo cinema é inseparável da história e da identidade de Los Angeles”, acrescentou o prefeito Eric Garcetti, em nota oficial. “Estamos trabalhando para o dia em que o público possa retornar aos cinemas – e essa parceria extraordinária preservará uma parte importante de nossa herança cultural que poderá ser compartilhada nos próximos anos.”
Além de assumir a programação dos dias de semana, a Netflix investirá na renovação do espaço exibidor.
“O Egyptian Theatre é uma parte incrível da história de Hollywood e é apreciado pela comunidade cinematográfica de Los Angeles há quase um século”, disse Scott Stuber, chefe da divisão de filmes da Netflix. “Estamos ansiosos para expandir sua programação de maneiras que beneficiem tanto os amantes do cinema quanto a comunidade de Hollywood”.