50 anos após a separação, imagine os discos que os Beatles teriam feito até 1980

50 anos anos após sua separação, os Beatles continuam a banda de rock mais popular de todos os tempos. Prova disso é que até fãs que nem tinham nascido em 10 de […]

50 anos anos após sua separação, os Beatles continuam a banda de rock mais popular de todos os tempos. Prova disso é que até fãs que nem tinham nascido em 10 de abril de 1970, quando Paul McCartney revelou que eles não voltariam mais a tocar juntos, lamentaram o aniversário da separação do grupo, comemorado neste fim de semana.

Os fãs, porém, foram os últimos a saber. Paul já tinha gravado seu primeiro álbum solo quando respondeu “não” à pergunta de um jornalista sobre se voltaria a compor com John Lennon. “McCartney rompe com os Beatles”, publicou imediatamente o New York Times. Só que todos os Beatles estavam desenvolvendo trabalhos solos naquele instante. Ringo Starr e George Harrison já haviam lançado álbuns separados, enquanto John Lennon e sua esposa – Yoko Ono – se apresentavam como a Plastic Ono Band há cerca de um ano. A verdade irônica é que Paul foi o último a iniciar sua carreira individual.

O autor da biografia oficial de Paul McCartney, publicada em 2016, recorda como a confirmação da separação representou o fim de uma era. “Uma geração inteira cresceu com os Beatles. Eles lançaram um novo álbum para cada etapa importante da vida”, disse Philip Norman, em entrevista ao jornal The New York Times neste fim de semana. “Muitas pessoas pensaram que o futuro seria sombrio sem eles, era realmente um sentimento generalizado”, acrescentou.

Mas e se John, Paul, George e Ringo tivessem conseguido superar seus atritos? E se, como os Rolling Stones e The Who, tivessem continuado a gravar juntos todos esses anos? Em meados da década de 1970, eles quase voltaram atrás. Afinal, a amizade permaneceu, mesmo após o rompimento musical. Tanto que Paul McCartney e Ringo Starr ainda se reúnem para tocar, e em 2019 até se juntaram num cover de John Lennon, “Grow Old With Me”, música de 1980, no mais recente disco solo do baterista.

Que músicas eles teriam feito se tivessem permanecidos juntos? Nunca saberemos. Mas é possível ter uma vaga ideia, ao ouvir as melhores gravações das carreiras solo de cada um nas décadas seguintes. Com alguma imaginação, as seleções musicais abaixo sugerem os discos imaginários dos Beatles, que teriam sido lançados nos anos 1970 e 1980.

 

The Imaginary Beatles em 1970

O último disco dos Beatles, “Let It Be”, começou a ser vendido em maio 1970, um mês depois de Paul anunciar a separação. Àquela altura, os integrantes da banda já estavam mergulhados em suas carreiras solos.

Ringo Starr chegou a lançar dois discos no período: um de standards e outro de country e blues – nenhum marcou época. George Harrison, por outro lado, emplacou seu maior hit individual. Paul McCartney fez um LP romântico e intimista, que era uma declaração de amor a sua esposa, Linda. E John Lennon se antecipou a todos, lançando singles individuais desde 1969. Em seu período individual mais criativo, ainda concebeu seu disco mais engajado, um clássico de arrepiar. E cantou que o sonho acabou.

Mas e se esses esforços fossem coletivos, como seria o álbum que produziriam? Confira abaixo as “faixas” do álbum imaginário dos Beatles de 1970.

 

 

The Imaginary Beatles em 1971

Em 1971, John Lennon estava mais inspirado que nunca e Paul McCartney tinha canções suficientes para dois discos – um deles se tornou marco do movimento vegan e dos direitos dos animais, enquanto o outro apresentou uma nova banda, The Wings, liderada pelo casal McCartney.

Em compensação, George Harrison e Ringo Starr não produziram novos álbuns. Ringo gravou apenas um single – e foi seu primeiro hit individual. George estava ocupado organizando o primeiro concerto beneficente da era do rock, o famoso “Concerto para Bangladesh”, mas também ajudou o amigo John a gravar seu segundo álbum solo.

Sim, dois Beatles voltaram a se encontrar novamente no estúdio, um ano somente após o final oficial da banda. O resultado? “Imagine”. Imagine mais. Imagine se todos eles tivessem trabalhado juntos. Como seria o álbum que produziriam em 1971?

 

 

The Imaginary Beatles de 1972 a 1973

John foi o único ex-Beatle a gravar um álbum em 1972, inspirado por acontecimentos trágicos e causas políticas. A famosa rebelião na prisão de Attica e o massacre do domingo sangrento na Irlanda do Norte saíram das manchetes da época direto para suas canções – não por acaso, a capa de “Sometime in New York City” imitava a arte de um jornal impresso. Paul não lançou LP, mas fez bastante barulho. Também se politizou e gravou uma música em favor da causa irlandesa, devidamente banida das rádios britânicas. Para seu azar, seu single seguinte, considerado apologia às drogas, teve o mesmo destino. De saco cheio, resolveu ironizar a situação lançando uma musiquinha infantil, que não teve problemas em tocar à exaustão na programação da BBC.

Como os poucos singles do período não rendem um bom mix coletivo, digamos que esse disco imaginário levou mais tempo para ser lançado, incluindo composições criadas em 1973. Este ano encontrou Paul compensando seus contratempos com o lançamento de dois álbuns e a composição de um dos melhores temas dos filmes de James Bond, enquanto George radicalizou sua trilha espiritual, incorporando filosofia e instrumentos indianos em suas gravações. Nada, porém, foi mais incrível que Ringo conseguir emplacar uma música no 1º lugar das paradas.

E tudo isso junto?

 

 

The Imaginary Beatles em 1974

Paul também não lançou LP em 1974, mas o disco que disponibilizou no dezembro anterior rendeu singles durante o ano inteiro. Afinal, não foi um disco qualquer, mas o clássico “Band on the Run”, melhor álbum de sua carreira à frente dos Wings.

Em contraste, John Lennon iniciou seu afastamento dos palcos, compondo baladas depressivas, mas também inesperados funks dançantes em parceria com Elton John – e até o hit “Fame”, com David Bowie. Ele ainda ajudou Ringo Starr a gravar mais um álbum.

 

 

The Imaginary Beatles de 1975 a 1976

O próximo LP imaginário foi um dos mais sofridos. Afinal, John lançou um disco quase perdido, apenas com covers, brigou com Yoko Ono e sumiu por um período de cinco anos. George fez um trabalho que não emplacou hits. Até Paul concebeu um álbum de glam rock espacial, que não estourou. Enquanto Ringo deixou 1975 simplesmente passar em branco.

A história de John é a mais maluca, graças aos bastidores tumultuados de seu álbum com Phil Spector, o produtor de “Let It Be” (1970). O que era para ser um disco simples de versões de clássicos do rock’n’roll virou um show de horrores, com o louco Spector dando tiros no estúdio e fugindo com as fitas originais das gravações. Foi preciso o produtor sofrer um acidente, ficar entre a vida e a morte, para os tapes serem recuperados. A esta altura, um ano tinha se passado e John voltara para Yoko, ao lado de quem ficaria nos próximos cinco anos, sem gravar, dedicando-se apenas à família. Antes de entrar nesse longo hiato, John voltou a ajudar Ringo em seu disco de 1976.

Enquanto isso, Paul também se frustrou com um disco que não rendeu o esperado. Mas não se deu por vencido. Voltou no mesmo ano para o estúdio e começou a gravação de um dos LPs mais populares dos Wings, energizado pela maior turnê internacional feita pela banda – que acabou capturada em filme (“Rockshow”).

 

 

The Imaginary Beatles de 1977 a 1979

Com o “isolamento social” de John, Paul tornou-se o ex-Beatle mais bem-sucedido. Fez tanto sucesso que decidiu sair em carreira “solo”. Isto é, dissolveu sua segunda banda em 1979, após mais dois discos repletos de hits.

Nesta fase, embora ainda não existisse a MTV, os ex-Beatles lançaram vários vídeos musicais, refletindo um interesse cada vez maior na representação visual de suas canções. George Harrison, retomando sua melhor forma, teve até um clipe dirigido por Eric Idle, do Monty Python – na época, George fundou uma produtora de cinema para financiar os primeiros longas dos Monty Python.

Mesmo com tanta criatividade, seria possível imaginar um disco dos Beatles, mesmo imaginário, sem contribuição de John. Por sorte, ele deixou demos gravadas da música que compôs para o disco de Ringo, sua última faixa inédita por um bom tempo.

 

 

The Imaginary Beatles nos anos 1980

John só retornou ao estúdio em 1980, mas quem imaginava um grande fluxo de novidades depois de uma espera de cinco anos, encontrou um disco com metade das faixas cantadas por Yoko Ono. Entretanto, ele deixou muitas demos gravadas, que acabaram originando outros dois álbuns oficiais – infelizmente, póstumos.

Assim como John, Paul também decidiu recomeçar sua carreira, lançando um LP emblematicamente chamado “McCartney II” – “McCartney” foi o título de seu primeiro trabalho solo após os Beatles.

Por coincidência, Lennon e McCartney, a melhor dupla de compositores do rock em todos os tempos, resolveram recomeçar ao mesmo tempo. Dá para imaginar como seria, se eles tivessem ficado juntos por mais uma década? Pelo menos, até o fatídico 8 de dezembro de 1980, quando John foi assassinado?

A morte de John juntou os demais Beatles em homenagens e gravações tocantes sobre os velhos tempos e o velho amigo, rendendo, inclusive, o melhor disco da carreira solo de George. O impacto foi tanto que até músicas inéditas do quarteto de Liverpool surgiram nos arquivos da gravadora EMI. Duas canções rejeitadas pela banda, que ao virar single geraram um frisson como se fossem hits… ou como se os Beatles não tivessem acabado há muitos anos atrás.

A propósito, esse último lançamento imaginário é “duplo” – mas sem as parcerias de Paul com Steve Wonder e Michael Jackson, que teriam sido, digamos, projetos paralelos. Um Álbum Preto, de luto, gravado antes e depois da morte de John, repleto de reflexões sobre a trajetória do grupo, que Paul, George e Ringo levaram até a segunda metade da década de 1980 para completar/superar. E que um fã estendeu até 2019, com um remix de “Grow Old with Me”, juntando a voz da gravação de 1980 de John, com o vocal de Paul e Ringo no cover de 2019. É a faixa que encerra esse passeio pela ladeira da memória afetiva, entre discos imaginários e músicas verdadeiras.