Empossada na quarta-feira (4/9) secretária de Cultura do Brasil, Regina Duarte foi enquadrada pelo governo em tempo recorde, em menos de uma semana no cargo. Nenhum outro ministro recebeu recado de que pode cair em tempo tão breve.
Nesta segunda (9/8), ela recebeu uma reprimenda pública do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, via Twitter, em resposta a uma entrevista que deu ao programa “Fantástico”, exibida no domingo (8/3) pela Rede Globo.
O trecho que incomodou o governo foi a constatação feita por Regina de que passou “os primeiros dias desfazendo intrigas, respondendo a acusações que não são verdadeiras. A gente começou com enormes dificuldades por causa de uma facção que quer ocupar esse lugar. Já tem hashtag #foraregina”.
Tudo o que ela disse é verdade.
Mas Luiz Eduardo Ramos contestou, em nome do governo, o tom e a escolha de palavras da atriz. “O uso do termo ‘facção’ em entrevista, sem nomear seus supostos integrantes, dá a entender que há divisões inexistentes e inaceitáveis em nosso governo”, ele escreveu.
Ramos ainda definiu o que é Cultura, caso a secretária não soubesse, e mandou, educadamente, ela bater continência e seguir o Chefe. Ou, senão…
“O Presidente valoriza a cultura, que deve se espelhar na família tradicional e nos princípios cristãos. Nosso governo tem um norte: a vontade da maioria do seu povo. Nisso Regina e Bolsonaro devem estar juntos”, escreveu Ramos. “São seus ministros e secretários que devem se moldar aos princípios publicamente defendidos pelo Presidente da República, não o contrário”, acrescentou, no enquadramento.
Além do puxão de orelha público, o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, descreveu que Carlos Bolsonaro, o filho mais radical, “ficou apoplético” com a entrevista ao “Fantástico”. Ele cita como fontes “assessores do Palácio do Planalto”, que teriam ouvido “o incontrolável Carluxo” dizer na manhã desta segunda que “sua missão é tirar Regina do governo”. Carlos “sentiu-se atingido com a fala da atriz”.
“Carluxo” já teria sido responsável pela queda de três Ministros do governo do pai.
A entrevista de Regina Duarte também foi ironizada por Sérgio Camargo, da Fundação Palmares, descrito por ela como “ativista, mais que um gestor público”. Na entrevista, ela disse que estava “adiando esse problema” para resolver (demitir) quando baixasse a temperatura. E essa foi a deixa para Camargo aumentar a temperatura. “Bom dia a todos, exceto a quem chama apoiadores do Bolsonaro de facção e o negro que não se submete aos seus amigos da esquerda de ‘problema que vai resolver”‘, ele escreveu no Twitter.
Aos poucos, Regina Duarte começa a descobrir o que muitos brasileiros sempre souberam.
Ao assumir um cargo no governo, ela acreditou que teria carta-branca para fazer o que quisesse na Cultura. Largou o emprego de mais de 50 anos na Globo para atender ao convite do presidente e ser a “salvadora” da Cultura no Brasil, em chamas após o próprio Bolsonaro assumir o cargo. Regina chegou a dizer que considerava Bolsonaro incompreendido. Talvez agora comece a compreendê-lo melhor.