Os telefones celulares deixaram de ser uma comodidade e se tornaram uma necessidade. Ao mesmo tempo, a dependência deste tipo de tecnologia se transformou em vício. A imensidão da realidade foi substituída pela limitação da tela. O afeto humano deu lugar à gratificação digital. Portanto, não é nenhuma surpresa que o gênero de terror tenha visto aí uma oportunidade a ser explorada.
É o caso de “A Hora da Sua Morte”, cuja proposta é discutir a dependência dos aplicativos do celular. Porém, sua abordagem rasa e ultrapassada o torna tão dispensável quanto aquelas notificações que arrastamos para o lado sem ler.
Escrito e dirigido por Justin Dec (fazendo aqui a sua estreia em longas-metragens), o filme tem início mostrando um grupo de jovens em uma festa. Sentados à mesa, com seus celulares à mão, eles descobrem um aplicativo chamado Countdown que, supostamente, diz a hora exata da sua morte.
Como brincadeira, todos o instalam. Enquanto alguns se divertem com o fato de ainda terem dezenas de anos pela frente, uma das participantes se assusta ao perceber que sua morte está agendada para dali a três horas.
Temendo o destino trágico, ela se recusa a entrar no carro com o namorado bêbado. Em vez disso, vai a pé para casa. Porém, ao chegar lá, é atacada por um demônio que veio “cobrar” a morte dela na hora prevista.
Em seguida, conhecemos a protagonista: a enfermeira Quinn (Elizabeth Lail). Ela trabalha em um hospital movimentado e evita contato com a família desde a morte da sua mãe. Quinn fica sabendo do aplicativo e o instala.
Depois de descobrir que sua morte está agendada para acontecer em poucos dias, ela começa a ter estranhas visões e resolve investigar o aplicativo, procurando uma forma de vencê-lo antes que o cronometro chegue ao zero.
“A Hora da Sua Morte” levanta questionamentos interessantes a respeito da curiosidade relacionada à nossa própria mortalidade e da segurança gerada pela ignorância acerca deste assunto. Nada disso, porém, é bem explorado. Os personagens são guiados apenas pela banalidade das suas relações com a tecnologia. Assim, a amplitude desta discussão se transforma em uma trama rasa sobre os perigos de não se ler os termos e condições dos aplicativos.
Além do mais, nenhum dos coadjuvantes – inclui-se aí um jovem que também instalou o aplicativo, a irmã da protagonista, um excêntrico especialista em tecnologia e um padre nerd obcecado por demônios – ganha muito desenvolvimento, o que é até esperado nesse tipo de produção. Mas isto se torna mais irritante porque o filme insiste em soluções canhestras para comprovar a ameaça do aplicativo mortal.
Tais soluções reforçam a incapacidade do cineasta em criar situações verossímeis, capazes de gerar alguma empatia pelos personagens. Em vez disso, ficamos torcendo para que sejam punidos logo pela sua estupidez.
Ainda assim, o diretor estreante acerta na composição de algumas cenas, especialmente quando usa a profundidade de campo para fazer o demônio se esconder em meio às sombras. A visualidade do vilão também é bem explorada, lembrando a imagem icônica do ceifador.
Os méritos, porém, são poucos. E durante a maior parte de “A Hora da Sua Morte”, o público fica mesmo contando os minutos perdidos de sua vida, até o filme acabar.