A fotógrafa francesa Valentine Monnier acusou publicamente o cineasta Roman Polanski de tê-la estuprado em 1975 na Suíça, quando ela tinha 18 anos. A denúncia foi publicada pelo jornal Le Parisien nesta sexta (8/11), a poucos dias da estreia do novo filme do diretor de 86 anos. Este, por sinal, teria sido o motivo dela decidir se manifestar.
Monnier disse que resolveu revelar o estupro devido à estreia do filme “An Officer and a Spy” (J’accuse), em que Polanski filma um famoso erro judicial francês, o caso Dreyfus, em que um inocente é injustamente condenado por um crime que não cometeu. Polanski já teceu comentários comparando o seu caso com o de Dreyfus.
“Não tinha qualquer relação com ele, pessoal ou profissional, só o conhecia”, relatou Monnier, que foi modelo em Nova York e participou de alguns filmes nos anos 1980, como “Três Homens e um Bebê”.
“Foi de uma violência extrema, após esquiar, em seu chalé em Gstaad (Suíça), me agrediu até que me entreguei. Então me violentou me fazendo sofrer”.
O advogado do cineasta, Hervé Temime, afirmou ao jornal Parisien que Polanski “nega firmemente qualquer acusação de estupro”, e destaca que fatos que teriam ocorrido há 45 anos “jamais foram levados ao conhecimento das autoridades”.
A denunciante confirmou que jamais informou o crime – agora prescrito – à polícia.
Ela foi a sexta mulher a acusar Polanski de estupro.
O cineasta é considerado foragido pela justiça dos Estados Unidos, após se exilar na França em meio ao julgamento de 1977 em que se declarou culpado de ter mantido relações sexuais com Samantha Geimer, então com 13 anos. Ela foi compensada financeiramente por Polanski e ainda escreveu um livro sobre sua história, e nos últimos anos vem defendendo o diretor por considerar que ele cumpriu sua pena – ficou preso alguns dias nos anos 1970 e novamente em 2009, além de ficar impedido de trabalhar em Hollywood mulheres surgiram com denúncias de abuso sexual de décadas atrás.
As denúncias anteriores também relataram casos acontecidos nos anos 1970.
A atriz alemã Renate Langer, vista em “Amor de Menina” (1983) e “A Armadilha de Vênus” (1988), relatou ter sido estuprada duas vezes em 1972, quando ela tinha 15 anos e Polanski 39, também na casa do cineasta em Gstaad, na Suíça. Logo após o primeiro ataque, Polanski teria convidado Langer para figurar em seu filme “Que?”, como pedido de desculpas. O segundo abuso teria acontecido durante as filmagens, em Roma. A atriz revelou que, para se defender, chegou a jogar uma garrafa de vinho e outra de perfume no diretor.
Outras acusações partiram da atriz britânica Charlotte Lewis (“O Rapto do Menino Dourado”), que denunciou ter sido estuprada em 1983, quando ela tinha 16 anos, de uma mulher identificada apenas como Robin, que acusa o diretor de tê-la estuprado nos anos 1970, também quando tinha 16 anos, e de Marianne Barnard, atacada em 1975 aos 10 anos de idade, durante uma sessão de fotos em que Polanski lhe pediu que posasse usando apenas um casaco de pele em uma praia de Los Angeles.
A maioria das denúncias só veio à tona recentemente, durante o auge do movimento #MeToo, que Polanski chamou de “histeria coletiva” e “hipocrisia”. Por conta das novas denúncias, o cineasta foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, que lhe premiou com o Oscar de Melhor Direção por “O Pianista”, em 2003.
O novo filme do diretor, “An Officer and a Spy” (J’accuse), também foi premiado. Venceu o Grande Prêmio do Júri (Leão de Prata) do Festival de Veneza deste ano. A estreia está marcada para quinta-feira (13/11) na França, mas ainda não há previsão para o lançamento no Brasil.