Cineasta que passou cinco anos preso na Rússia ganha prêmio do Parlamento Europeu

Libertado de uma prisão russa após cinco anos, o cineasta ucraniano Oleg Sentsov recebeu nesta terça (26/11) o Prêmio Sakharov para Liberdade de Pensamento, oferecido pelo Parlamento Europeu. O troféu foi criado […]

Libertado de uma prisão russa após cinco anos, o cineasta ucraniano Oleg Sentsov recebeu nesta terça (26/11) o Prêmio Sakharov para Liberdade de Pensamento, oferecido pelo Parlamento Europeu.

O troféu foi criado em 1985 pela União Europeia para homenagear pessoas ou organizações que dedicaram as suas vidas ou ações à defesa dos direitos humanos e à liberdade.

Oleg Sentsov venceu o prêmio do ano passado, mas só agora pôde receber pessoalmente a honraria. Ele estava preso desde 2014, após a Rússia anexar o território ucraniano da Crimeia.

Diretor do filme “Gámer”, exibido na Mostra de São Paulo em 2012, Sentsov foi aprisionado após denunciar a Rússia por ataques terroristas na Crimeia, onde morava. Detido em sua casa, em maio de 2014, foi condenado a 20 anos de prisão por um tribunal militar sob a acusação de ter coordenado um grupo de ativistas filiados ao movimento paramilitar ucraniano Pravy Sektor (Setor de Direita), que planejaria atentados contra as organizações pró-russas e as infraestruturas da península. O movimento teria colocado fogo em dois prédios, um deles pertencente ao atual partido do governo da Rússia.

Ele se declarou inocente à época, afirmando que seu julgamento era uma farsa com motivações políticas. Sentsov chegou a entrar em greve de fome – interrompida à força – para alertar que havia mais 64 presos políticos na sua prisão, que foram detidos sem nada terem feito além de protestar contra a invasão da Rússia na Ucrânia.

Sentsov foi identificado como inimigo da Rússia por ter trabalhado como voluntário para levar comida e mantimentos aos soldados ucranianos que enfrentaram o avanço russo. Ele também ajudou a organizar protestos pacíficos.

O Departamento de Defesa dos EUA e o Parlamento Europeu condenaram sua prisão, assim como artistas e cineastas europeus, inclusive russos, e principalmente a Academia Europeia de Cinema, que realizou vigílias para sua libertação. Mas o presidente Vladimir Putin afirmou repetidas vezes que não interviria em um problema da Justiça russa, reforçando que ele estava preso por acusações de terrorismo.

A liberdade de Sentsov aconteceu apenas no dia 7 de setembro passado, quando os governos da Ucrânia e da Rússia concordaram em fazer uma troca de prisioneiros. 35 russos presos na Ucrânia foram libertados para que o país recebesse 35 ucranianos aprisionados na Rússia. Na ocasião, Mike Downey, vice-presidente da Academia Europeia, disse: “Finais felizes raramente acontecem, exceto nos filmes. Mas no caso de Oleg Sentsov, embora seja uma vitória amarga depois de mais de cinco anos de luta no gulag e meses em greve de fome, ele nunca desistiu de sua posição ou de seus princípios.”

Nesta terça, em seu discurso de agradecimento ao prêmio do Parlamento Europeu, Sentsov voltou a se manifestar sobre a ameaça representada por Vladimir Putin à democracia da Ucrânia.

“É uma honra imensa e também uma responsabilidade imensa. Eu aceito esse prêmio em nome de todos os presos políticos da Ucrânia que estiveram em prisões russas”, disse Sentsov, antes de acrescentar: “Eu não confio em Putin e eu peço que vocês também não confiem nele. A Rússia e o Sr. Putin irão traí-los. Eles querem ver a Ucrânia de joelhos”, completou.