O presidente Jair Bolsonaro disse que quer na Agência Nacional de Cinema (Ancine) um diretor de perfil evangélico. Em almoço com jornalistas, Bolsonaro afirmou que pretende encontrar alguém que saiba “recitar 200 versículos bíblicos”, tenha o joelho machucado de tanto rezar e carregue a bíblia “encaixada debaixo do braço” para comandar a agência.
“É um certo exagero, mas eu sou um presidente conservador”, acrescentou, ao comentar o decreto que na sexta-feira (30/8) exonerou Christian de Castro Oliveira da presidência da entidade, e voltando a demonstrar descontentamento com a gestão liberal da Ancine.
Bolsonaro também disse recentemente que iria nomear um ministro “terrivelmente evangélico” para o STF (Supremo Tribunal Federal) e que contava com um ministro “terrivelmente evangélico” na AGU (Advocacia Geral da União).
Com essa linha de atuação, ele avança sobre a divisão entre estado e religião estabelecida pela Constituição. “O estado é laico, mas nós somos cristãos”, já disse e repetiu outras vezes, como defesa de sua atuação.
A intensão de Bolsonaro parece ser realmente transformar em realidade a distopia imaginada pelo filme “Divino Amor”, de Gabriel Mascaro.
Com 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes, “Divino Amor” mostra um Brasil do futuro tão “terrivelmente evangélico” que nem carnaval tem mais. E onde regras rígidas e vigilância constante impedem a população de se desviar dos ideais consagrados pela religião.
Por identificar em Bolsonaro o grande arquiteto dessa distopia, Mascaro nem sequer inscreveu seu filme para disputar uma vaga entre os selecionados ao Oscar de Melhor Filme Internacional. O cineasta tem profunda clareza de que “Divino Amor” jamais seria escolhido numa comissão estabelecida por ministério do atual governo, cuja pauta é evangelicamente “terrível”, a começar por defender “filtros” (outro nome para censura) no cinema nacional.