Duas pesquisas diferentes, divulgadas nos últimos dias, apontaram aumento no número de suicídios de jovens americanos após a estreia da série “13 Reasons Why”, cujo tema é exatamente este. Os estudos não vinculam diretamente o aumento de mortes à popularidade da atração, mas fazem sugestões neste sentido.
A primeira pesquisa foi realizada em conjunto por diversas universidades e hospitais dos Estados Unidos e o Instituto Nacional de Saúde Mental (INSM). Publicada na semana passada no periódico científico Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, mostrou que o número de mortes por suicídio nos Estados Unidos em abril de 2017 superou o registrado em qualquer outro mês durante o período de cinco anos analisado pelos pesquisadores.
Ao individualizar os índices de acordo com o sexo da vítima, foi notado um aumento significativo entre homens jovens no mês seguinte à estreia da série. Houve um crescimento entre o sexo feminino, mas ele foi considerado estatisticamente insignificante.
“Os resultados devem servir de alerta de que os jovens são especialmente sensíveis ao que é exibido pela mídia”, disse Lisa Horowitz, cientista do INMS e autora do estudo. “Todos os profissionais, inclusive da mídia, devem se preocupar em serem construtivos e cuidadosos ao lidar com temas relacionados a crises de saúde pública.”
O segundo estudo, publicado nesta quinta (30/5) na revista Jama Psychiatry, tem dados diferentes, mas afirma que houve um aumento de 13% nos suicídios de jovens de 10 a 19 anos entre abril e junho de 2017, com uma maior incidência em mulheres.
O estudo foi realizado por uma equipe dirigida por Thomas Niederkrotenthaler, do Centro de Saúde Pública da Universidade de Medicina de Viena, usando os dados de suicídios dos Centros de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
“As associações identificadas aqui devem ser interpretadas com certa cautela, mas parecem demonstrar um aumento dos suicídios que é consistente com o potencial de contágio da mídia”, escreveram.
No começo da semana, Brian Yorkey, criador de “13 Reasons Why”, e Rebecca Hedrick, psiquiatra consultora na série, defenderam a atração na revista The Hollywood Reporter, apontando que “o impacto positivo da série [também] foi observado em inúmeras pesquisas. Em um estudo, a maioria dos que admitiram ter praticado bullying antes de assistir à 1ª temporada disse que mudou seu comportamento após a série”.
“Outro estudo apontou que assistir ’13 Reasons Why’ deu a estudantes uma melhor compreensão do suicídio, mas não gerou pensamentos ou comportamentos suicidas”, escreveram na coluna.
Os dois ainda apontaram que em 2018 a série ganhou um prêmio por encorajar conversas “entre pais, estudantes e defensores da saúde mental acerca da epidemia de suicidio, depressão e bullying em adolescentes”.
Além disso, contestam relatos de aumento de suicídios depois da estreia da série com a informação de que a série gerou mais ligações para canais de ajuda. Em outras palavras, a série teria incentivado as pessoas a procurarem ajuda.
À imprensa, a Netflix disse analisar os resultados de todos os estudos. E citou outros que conflitam com os dados atuais.
“Especialistas concordam que não existe uma única razão para as pessoas tirarem suas próprias vidas – e que as taxas de adolescentes que tomam essa atitude vêm aumentando tragicamente por anos nos Estados Unidos. Os dois estudos levantam questões importantes, mas são conflitantes entre eles, ainda que sejam baseados nos mesmos dados fornecidos pelo governo dos Estados Unidos. Eles também não explicam o aumento de casos entre meninas em novembro de 2016, e entre meninos em março de 2017 – antes do lançamento da série”, disse a plataforma em comunicado oficial. “’13 Reasons Why’ aborda a realidade desconfortável da vida para muitos jovens hoje e nós ouvimos deles, e de médicos especialistas, que a série ajudou muitos espectadores a terem coragem de falar sobre o assunto e procurar ajuda”, conclui o texto.
A 1ª temporada de “13 Reasons Why” foi ao ar em 31 de março de 2017. Ela conta a história de uma adolescente que se mata e deixa 13 gravações que explicam os motivos que a levaram a fazer isso.
A 2ª temporada foi lançada em maio de 2018 e uma 3ª está atualmente em produção.