Exibido apenas no Festival de Berlim, “Marighella”, o primeiro filme dirigido por Wagner Moura, já teria sido visto por milhares de brasileiros, bem mais que as poucas dezenas de convidados da sessão de gala do longa na Alemanha, se fossem consideradas reais as opiniões sobre a obra publicadas no site IMDb no último fim de semana.
Na verdade, a estranha popularidade do longa, que ainda não teve estreia comercial, deve-se a uma campanha organizada nas redes sociais e Whatsapp por grupos da extrema direita do Brasil, com o objetivo de atacar o trabalho de forma maciça. Isto porque o filme é uma cinebiografia de um guerrilheiro baiano, que entrou na luta armada contra a ditadura militar brasileira.
O site IMDb, que incentiva resenhistas amadores a escreverem sobre seus filmes favoritos, monitorou o movimento atípico e decidiu apagar todas as resenhas falsas contra o longa. Foram consideradas fake reviews, porque escritas por quem não viu o trabalho e tem uma agenda diferente do comentário cinematográfico.
Isto aconteceu após mais de mil críticas serem escritas em menos de três dias, num movimento de dar inveja aos blockbusters da Marvel, e após a nota do filme inédito marcar 2,8 na avaliação gerada pela computação de 26 mil interações do público.
Usuários favoráveis ao filme também se mobilizaram para denunciar, um por um, todos os comentários sobre o filme como “inapropriados”. “Muitas pessoas estão propositalmente dando nota 1/10 ao filme devido a uma opinião política divergente”, escreveu num deles num fórum de atendimento ao consumidor.
O IMDb atendeu às denúncias e, na manhã desta segunda-feira (18/2), tirou todos os comentários do ar. Com o apagamento das críticas falsas, a nota também foi desconsiderada. Mesmo assim, os falsos resenhistas continuam a tentar repor suas opiniões negativas contra o filme que não viram, com a irônica alegação de que a reação do IMDb é censura. Uma “crítica” que permanece no ar usa a expressão “commie”, uma ofensa do auge da Guerra Fria, que pode ser traduzida como “comunistinha”.
Comentários desse tipo também foram escritos no Rotten Tomatoes, embora não tenham sido considerados para gerar uma nota de avaliação. Entre os ataques, pode ser lido que o filme é “propaganda comunista”, “tudo é mentira”, “terrorista mostrado como herói”, “brasileiros não toleram terroristas”, “exalta bandido a custa de impostos dos brasileiros”, etc.
Até o momento, o Rotten Tomatoes compilou três críticas oficiais da imprensa americana sobre “Marighella”. Todas são positivas e todas preveem polarização devido ao timing da produção, que chega aos cinemas após a eleição de Jair Bolsonoro, representante da ditadura militar denunciada no longa.