A mágica da adaptação que Peter Jackson, Fran Wash e Philippa Boyens fizeram em “O Senhor dos Anéis” já não funcionou tão bem em “O Hobbit” e desanda de vez em “Máquinas Mortais”. O livro de Philip Reeve tem uma premissa original e curiosa: um mundo pós-apocalíptico em que os aglomerados urbanos se tornaram Cidades de Tração, ou seja, cidades móveis, que vão andando de um lado para o outro tentando se alimentar das menores ou fugir das maiores. Imagine se os carros de Mad Max fossem… err… cidades… e você terá uma boa ideia do mundo habitado pelas “Máquinas Mortais”.
E, visualmente, o filme é espetacular. A escala é enorme e o conceito absurdo funciona muito bem na tela grande: o design de produção, os tipos de cidades, suas engrenagens, os figurinos, a inspiração steampunk, está tudo lá, atuando de maneira muito eficiente como reforço ao roteiro. O problema são os personagens caricatos, as frases de efeito manjadas e as coincidências que precisam ocorrer para a história andar (com o perdão do trocadilho). Em “Máquinas Mortais”, as cidades são mais interessantes do que os humanos.
A impressão que se tem é que o filme precisou condensar muita informação e não conseguiu equilibrá-las de maneira razoável. Toda a mitologia por trás do mundo futurista precisou ser apresentada em um off inicial (chupado do “Senhor dos Anéis”) e muitos, muitos diálogos expositivos. Os personagens principais não têm tempo para serem apresentados e isso impede uma identificação clara com eles: pretendem não ser arquetípicos, mas também não são bem desenvolvidos, tornando-se indiferentes para o público. Outros aparecem e desaparecem de acordo com a necessidade do roteiro.
O supervisor de efeitos visuais de várias produções de Peter Jackson, Christian Rivers, estreia na direção de longas com um projeto ambicioso que começa muito bem, mas vai perdendo… hã… combustível à medida em que avança.
Iniciando com uma sequência espetacular que apresenta o mundo, os personagens e suas situações, “Máquinas Mortais” vai perdendo empolgação, chegando a um clímax… corrido, com resoluções gratuitas jogadas na tela sem vergonha nenhuma. Os atores vão ficando cada vez mais caricatos e quando chegam os créditos, a história de vingança contra um dos líderes de Londres (uma cidade-tração gigantesca que consome as menores) se torna uma sombra distante do que prometia aquela cena de abertura.
Nem mesmo a interessante alegoria do darwinismo municipal é bem aproveitada, apenas raspando na discussão de como nossas metrópoles acabam “engolindo” comunidades menores. Sobra o visual arrebatador, algumas cenas de ação eficientes e as piadinhas divertidas com nossos itens de consumo tornados peças de museu. Pena que “Máquinas Mortais” não deverá sobreviver tanto tempo assim em nossas memórias. Ironicamente, não teve forças para ir tão longe quanto pretendia…