Durou poucas horas o status de Kevin Hart (“Jumanji: Bem-Vindo à Selva”) como apresentador do Oscar 2019. Dois dias após dizer que ser o mestre de cerimônia do Oscar era um objetivo de sua vida, o comediante anunciou sua desistência.
Fez isso antes de dar tempo para a Academia dispensá-lo.
A saída foi provocada pelo ressurgimento de tuítes homofóbicos do ator, resgatados nas redes sociais após ele ser convidado para a função. Em pouco tempo, o material virou um dos tópicos mais comentados do Twitter. E a reação de Kevin Hart foi ir ao Instagram dizer que preferia perder o trabalho a se sujeitar à pressão de trolls da internet.
Num dos tuítes antigos resgatados, ele relatou que não aceitaria um filho gay, dizendo que se o pegasse brincando com bonecas, quebraria o brinquedo na cabeça dele. Em outro, comparou a foto de um homem sensual a um “anúncio gay para a Aids”. E disse coisas piores.
Hart, de 39 anos, afirmou que as mensagens eram de quase uma década atrás e que ele amadureceu desde então. Mas relutou em se desculpar. Foram vários posts dizendo que não faria isso. Que isso seria alimentar os trolls. E com essa reação, apenas alimentou sua própria fama de homofóbico.
Ao final, optou por chutar para longe a oportunidade de apresentar o Oscar. Preferiu manter a pose orgulhosa e intransigente a assumir na prática o tal discurso de maturidade. Pediu para sair, porque sabia o que aconteceria diante de sua recusa.
Em 2011, a Academia forçou Brett Ratner a desistir de produzir o Oscar, após dizer, num evento de divulgação do filme “Roubo nas Alturas”, que “ensaio é coisa de viado”, e na sequência mostrar total desrespeito pelas mulheres em uma entrevista de rádio com Howard Stern. O resultado foi que Eddie Murphy, escolhido por Ratner para apresentar o Oscar daquele ano, decidiu abandonar a função em solidariedade ao cineasta. E, assim como agora, a Academia precisou encontrar um substituto.
“Escolhi descartar a desculpa. A razão pela qual faço isto é porque já falei sobre isto diversas vezes”, disse Hart. “Eu falei sobre quem eu sou agora em comparação com quem eu era então. Já fiz isto… Estou em um lugar completamente diferente em minha vida”, explicou o comediante em sua sequência de vídeos no Instagram.
Apenas bem mais tarde, no Twitter, o ator pediu desculpas à comunidade LGTBQ+ pelo que chamou de “palavras insensíveis do passado”, anunciando que estava desistindo de apresentar o Oscar.
“Eu fiz a escolha de desistir de apresentar o Oscar deste ano… Isso é porque eu não quero ser uma distração em uma noite que deve ser comemorada por tantos artistas talentosos incríveis. Eu sinceramente peço desculpas à comunidade LGBT pelas minhas palavras insensíveis do meu passado”, ele escreveu.
“Lamento ter machucado as pessoas. Eu estou evoluindo e quero continuar fazendo isto. Meu objetivo é unir as pessoas, não separar. Muito amor e apreço pela Academia. Espero que possamos nos encontrar de novo”, acrescentou.
E em seguida postou uma citação de Martin Luther King completamente fora de contexto, retomando uma posição supostamente desafiadora. “A medida final de um homem não é onde ele está em momentos de conforto e conveniência, mas onde ele está em tempos de desafio e controvérsia. Martin Luther King jr.”.
A Academia terá agora que encontrar um novo apresentador para a 91ª edição do Oscar, no dia 24 de fevereiro.
I have made the choice to step down from hosting this year's Oscar's….this is because I do not want to be a distraction on a night that should be celebrated by so many amazing talented artists. I sincerely apologize to the LGBTQ community for my insensitive words from my past.
— Kevin Hart (@KevinHart4real) December 7, 2018
I'm sorry that I hurt people.. I am evolving and want to continue to do so. My goal is to bring people together not tear us apart. Much love & appreciation to the Academy. I hope we can meet again.
— Kevin Hart (@KevinHart4real) December 7, 2018
The ultimate measure of a man is not where he stands in moments of comfort and convenience, but where he stands at times of challenge and controversy. Martin Luther King, Jr.
— Kevin Hart (@KevinHart4real) December 7, 2018