A Netflix deu o braço a torcer e lançará três de seus novos filmes originais em um número limitado de cinemas antes de estreá-los na plataforma de streaming.
A nova estratégia da empresa visa cumprir qualificação para o Oscar e justificar escalações em festivais que enfrentam pressões do parque exibidor. Mas também é uma forma de atrair ainda mais diretores e astros de prestígio para seus projetos, já que muitos cineastas importantes são contra a ideia de que seus filmes sejam vistos apenas em telas pequenas.
Os primeiros lançamentos que terão esta janela cinematográfica são “Roma”, de Alfonso Cuarón, “The Ballad of Buster Scruggs”, dos irmãos Coen, e “Bird Box”, de Susanne Bier. Os dois primeiros foram exibidos no Festival de Veneza, por sinal vencido por “Roma”.
“Há uma grande resposta aos nossos filmes na temporada de festivais, incluindo ‘Outlaw King’, que estará nos cinemas e na Netflix na semana seguinte. O plano é construir um ‘momento’”, explicou Scott Stuber, chefe do grupo de cinema da Netflix, sobre a decisão. “A prioridade da Netflix é sempre seus assinantes e produtores de filmes, e estamos constantemente inovando para os servir”.
A verdade é que não é de hoje que a Netflix tenta emplacar seus filmes no cinema. Quem não quer os filmes da Netflix é o circuito exibidor, que exige uma janela mínima de três meses de exclusividade, algo que a plataforma de streaming nem cogita.
O investimento da Netflix em filmes de prestígio e sua obsessão em vê-los premiados resultou numa manifestação dura da Associação Nacional dos Donos de Cinema dos Estados Unidos, durante o Festival de Toronto, sobre o esforço da plataforma para levar aos cinemas filmes disponíveis em streaming. “Esse gesto no meio do caminho vai falhar em satisfazer tanto o público quanto os cineastas e assinantes da Netflix. A Netflix tem de entender que não é cinema x streaming – tem de ser cinema e depois streaming, com a sequência correta”, afirmou o comunicado.
Mas o paradigma começa a mudar. Se antes a Netflix buscava distribuir no cinema títulos que lançava no mesmo dia em streaming, agora quer dar de uma a três semanas de exclusividade para a exibição em tela grande.
Ainda é pouco para o gosto dos exibidores. Na França, por exemplo, a janela é de quase um ano, o que impede essa estratégia de ganhar simpatia do Festival de Cannes, que barrou os lançamentos da Netflix de competir pela Palma de Ouro, justamente por pressão dos donos de cinema.
Por outro lado, o aval dos festivais de Veneza, Toronto e até a Mostra de São Paulo aos longas da Netflix também colocam pressão sobre o circuito exibidor para refrear suas exigências.
De olho nesse desenvolvimento, também está a Amazon, que produz diversos filmes de prestígio, como o premiado no Oscar “Manchete à Beira-Mar”, mas segue à risca a janela cinematográfica.