Em junho de 1943, o ministro Joseph Goebbels declarou Berlim “livre de judeus”. Mas, na verdade, cerca de 7 mil judeus permaneceram na capital alemã, na clandestinidade, a maior parte jovens. 1,7 mil deles conseguiram sobreviver até o final da guerra. Para que isso fosse possível, era preciso que muitos alemães – dezenas de milhares – ajudassem a escondê-los ou, pelo menos, deixassem de denunciá-los. O que indica que, apesar do maciço apoio ao regime nazista, havia uma oposição humanitária e corajosa, agindo silenciosamente nos subterrâneos.
Esse fato histórico é explorado em “Os Invisíveis”, uma ficção não só inspirada na realidade comprovada, como mesclada ao documentário, por meio de entrevistas com os sobreviventes retratados na narrativa do filme de Claus Räfle. São eles Cioma Schönhaus (1922-2015), interpretado por Max Mauff (“Sense8”), Ruth Arndt (1922-2013), papel de Ruby O. Fee (“Os Irmãos Negros”), Hanni Lévy, nascida em 1924 e vivendo em Paris, interpretada por Alice Dwyer (“A Garota das Nove Perucas”, e Eugen Friede, nascido em 1926 e vivendo na Suíça, papel de Aaron Altaras (“Nem Todos Eram Assassinos”). Pequena parte das entrevistas feitas com esses quatro sobreviventes, que são os protagonistas da trama, aparece no filme entremeada com a evolução da narrativa ficcional.
A sobrevivência de Cioma, Hanni, Ruth e Eugen é mostrada alternadamente em histórias paralelas, sem encontro entre eles. Cada um deles, todos muito jovens, se torna “invisível” de forma diferente, numa clandestinidade que aparece à luz do sol. Cioma, estudante de artes gráficas, acabou trabalhando como falsificador de passaportes e se utilizou desse mesmo recurso para se salvar, chegando à fronteira com a Suíça, onde passou a viver.
Hanni, de 17 anos, após a morte dos pais encontrou refúgio ao ser acolhida por uma vendedora de ingressos de cinema em sua casa, após pintar o cabelo de loiro, o que a tornava algo invisível. Passava a maior parte do tempo na rua.
Ruth vive uma odisseia de esconderijo em esconderijo, se disfarça de viúva de guerra e trabalha como empregada doméstica na casa de um oficial das forças armadas do Terceiro Reich.
Eugen, de 16 anos, único na família que precisava usar a estrela amarela porque tinha mãe judia e padrasto cristão, viveu escondido e se juntou a um grupo de resistência que, por meio de panfletos, denunciava crimes nazistas.
O que eles vivem, mostrado realisticamente, mas em tom poético, com suspense e até humor, traz um retrato humanista, muito colado á realidade, e esperançoso, quase otimista, apesar de toda a barbárie.
A forte sustentação documental do filme se explica por anos de pesquisa, instituições alemãs que preservam a memória do período e pela longa experiência anterior do cineasta como documentarista.