Críticos condenam criação da categoria de “filmes populares” no Oscar

O anúncio de que o Oscar incluirá uma categoria dedicada a “filmes populares” e entregará prêmios para outras categorias (impopulares) durante os intervalos comerciais da premiação não pegou bem entre jornalistas, críticos […]

Divulgação/AMPAS

O anúncio de que o Oscar incluirá uma categoria dedicada a “filmes populares” e entregará prêmios para outras categorias (impopulares) durante os intervalos comerciais da premiação não pegou bem entre jornalistas, críticos de cinema e membros da Academia. Diversos artigos foram escritos em protesto, enquanto o Twitter lotou de posts ironizando e/ou reclamando da decisão, que teria sido resultado de pressão da rede de TV ABC.

“A indústria de cinema morreu hoje”, escreveu o ator Rob Lowe na rede social, repercutindo o anúncio feito na quarta-feira (8/8).

“Isto significa que filmes como ‘Pantera Negra’ e ‘Missão Impossível’ não podem competir como Melhor Filme?”, questionou Stuart Oldham, editor da revista Variety.

“Já existe um prêmio para filmes populares. Chama-se ‘dinheiro'”, lembrou Mark Harris, jornalista do site Vulture, que também roteirizou o documentário “Five Came Back”.

Na falta de quem desenhasse, o jornalista Frank Pallotta postou um gráfico no canal de notícias CNN, que apontou que os filmes de maior bilheteria de todos tempos, de “E o Vento Levou” a “Avatar”, foram indicados ao Oscar de Melhor Filme. “Dos dez maiores sucessos do cinema, atualizados pela inflação, apenas um não foi indicado ou venceu o Oscar de Melhor Filme, “Branca de Neve”, que recebeu um Oscar honorário”, ele observou, antes de concluir: “Filmes populares são filmes”.

A decisão de incluir uma categoria para filmes populares foi tomada depois que a exibição da premiação deste ano registrou a pior audiência televisiva da história do Oscar nos Estados Unidos.

A rede ABC, que fechou contrato para transmitir o Oscar até 2028, teria feito um balanço sobre a transmissão e apontado problemas que a Academia deveria resolver, segundo apurou a revista Variety. O principal era a longa duração. A cerimônia de 2018 durou 3 horas e 53 minutos. Mas também foi considerado significativo o fato de os principais concorrentes serem filmes independentes que pouca gente assistiu. Os nove indicados ao Oscar de Melhor Filme faturaram, em média, US$ 78,7 milhões nas bilheterias dos EUA.

A Academia teria incorporado as sugestões em seu pacote de mudanças na premiação, buscando reduzir o evento para 3 horas – com entregas de prêmios durante os intervalos – e incluindo uma categoria exclusiva para blockbusters.

Entretanto, seria bem menos controverso estabelecer um limite fixo de 10 títulos na disputa do Oscar. Atualmente, o número de indicados depende de uma avaliação subjetiva da Academia e raramente atinge os 10 permitidos.

Esta mudança na regra foi instituída em 2009. Antes disso, apenas cinco filmes concorriam à estatueta de melhor produção do ano.

O aumento de indicados já tinha sido uma tentativa de incluir blockbusters entre os finalistas. Mas a própria Academia sabota esta iniciativa ao não preencher todas as vagas. Neste ano, deixou de fora “Logan”, por exemplo, que foi indicado a Melhor Roteiro e poderia muito bem fazer História ao disputar o troféu de Melhor Filme. Nenhum longa de super-herói jamais foi reconhecido pela Academia em sua categoria mais nobre.

De todo modo, vale observar que a ideia de dividir a premiação entre filmes de méritos artísticos e filmes de apelo popular não é nova. Ela praticamente nasceu com o Oscar.

Em 1928, no primeiro ano da premiação, o Oscar de Melhor Filme foi dividido entre dois vencedores: o épico de guerra “Asas”, de William A. Wellman, venceu o troféu de “Filme Excepcional”, enquanto que o drama “Aurora”, de F.W. Murnau, foi considerado o “Melhor Filme Artístico”. Mas essa divisão foi considerada tão bizarra que acabou extinta já no ano seguinte.

Ou seja, o Oscar quer recuperar um formato que já foi testado e reprovado há 90 anos.