A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA), responsável pela premiação do Globo de Ouro, declarou ter investigado as alegações de assédio sexual feitas pelo ator Brendan Fraser (da trilogia “A Múmia”) contra Philip Berk, ex-presidente da organização, e chegado à conclusão de que nada de grave aconteceu. Teria sido uma “piada” mal-interpretada, segundo comunicado oficial.
Um dos atores mais populares dos anos 1990, Brendan Fraser contou originalmente à revista americana GQ, em fevereiro, ter entrado em depressão e ficado sem vontade de continuar a carreira por conta de um assédio sexual que sofreu em 2003, durante um almoço realizado pela HFPA.
Uma jornalista do The New York Times já havia revelado na época que Philip Berk, ex-presidente da organização, havia apertado as nádegas do ator durante o evento. Mas, segundo Fraser, Berk foi além: “Sua mão esquerda se aproximou, me agarrou na poupa da minha bunda e um de seus dedos tocou no períneo. E começou a movê-lo”, relembrou o ator.
Fraser diz que o gesto o deixou paralisado. “Eu me sentia mal. Eu me senti como uma pequena criança. Senti como se houvesse uma bola na garganta. Eu pensei que ia chorar”. Ele conta que deixou o local imediatamente e cogitou contar o episódio a um policial do lado de fora do local, mas se sentiu humilhado. “[Isso] me fez recolher. Isso me fez sentir recluso.”
À época da divulgação da história, a associação prometeu que iria realizar uma investigação interna sobre o caso, apesar de
Berk negar a alegação, classificando-a como mentirosa.
A investigação chegou à conclusão diferente. O fato teria realmente acontecido. Mas, diante do escândalo, a HFPA procurou o ator para propor um comunicado conjunto que classificaria a questão como uma piada. O ator não aceitou.
Mesmo assim, a HFPA emitiu seu comunicado jogando panos quentes na polêmica, sem punir seu ex-presidente.
“Apesar de ter sido concluído que o Sr. Berk tocou inapropriadamente o Sr. Fraser, a evidência aponta que o toque era para ser levado como uma piada, não como um avanço sexual”, diz o texto, que ainda acrescenta que “todas as partes consideram o caso concluído”.
O ator, entretanto, não se deu por satisfeito. “Eu não entendi a piada”, afirmou ele em nova declaração à GQ, dizendo que se sentiu violado com o toque. “Eu sou o único que sabe onde fui tocado”.
Fraser ainda revelou que a HFPA se negou a compartilhar com ele o relatório completo com os resultados da investigação. Citando o sigilo necessário para proteger testemunhas, a associação enviou a ele apenas um resumo das conclusões.
Fraser disse se sentir como se estivesse sendo novamente forçado a se calar sobre o caso. “Há um sistema com regras não-escritas. Se você obedecer a ele, você será recompensando. Se não, você não será. Mas, além disso, eu quero encerrar esse episódio da minha vida e da minha carreira e seguir em frente, na esperança de que outros conseguirão o mesmo no futuro”.
O ator se pronunciou novamente na esperança de que a HFPA tome atitudes e peça a renúncia de Berk. “Queria dar a eles todas as oportunidades para mudarem isso. Acho que sou o primeiro tijolo do caminho. Talvez alguém coloque outro e o caminho continue. Não sei. Ainda não é tarde demais. Eles ainda podem fazer a coisa certa”.
Novamente procurado pela revista, Philip Berk, que dizia que Fraser tinha mentido, agora afirmou não ter recebido nenhuma reprimenda da Associação pela “piada” e que continua membro dela.
A HFPA não se pronunciou mais.
Vale lembrar que o último Globo de Ouro foi marcado por manifestações do movimento #MeToo, com destaque para o figurino totalmente preto das atrizes que participaram da premiação, em protesto justamente contra assédios como o sofrido por Fraser.