É até abusar de humor negro num caso tão sério, mas se há um filme amaldiçoado, este é “The Man Who Killed Dom Quixote” (O Homem que Matou Dom Quixote). Após aguardar 20 anos, desde a pré-produção até a véspera da aguardada estreia do longa no Festival de Cannes 2018, o diretor americano Terry Gilliam foi hospitalizado em Londres.
De acordo com a imprensa, Gilliam sofreu um AVC durante o fim de semana e os médicos dizem que ele pode não se recuperar completamente até a estreia do filme.
Além disso, o longa-metragem pode nem ser exibido. O produtor de “The Man Who Killed Dom Quixote”, Paulo Branco, tenta impedir a projeção do longa devido a uma disputa financeira com o diretor. O veredito do caso será conhecido na quarta (9/5), em Paris.
Ex-integrante do grupo humorístico britânico Monty Python, Gilliam, de 77 anos, também dirigiu os clássicos “Brazil – O Filme” (1985) e “Os Doze Macacos” (1995), e já tinha superado dificuldades extremas no passado para concluir um longa, “O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus” (2009), impactado pela morte do astro Heath Ledger na metade das filmagens.
Seu projeto mais recente é mais antigo que isso. A pré-produção de “The Man Who Killed Dom Quixote” começou em 1998 e as primeiras filmagens aconteceram em 2000, com Johnny Depp (“Piratas do Caribe”) no papel principal, e foram tantos problemas, incluindo inundações, interferências das forças armadas espanholas e uma hérnia sofrida pelo astro, que a produção precisou ser interrompida e o filme abandonado. Todas as dificuldades enfrentadas pelo projeto foram registradas num documentário premiado, “Lost in La Mancha” (2002).
Uma década depois, em 2010, Gilliam voltou a ficar perto de realizar o longa, chegando a filmar Ewan McGregor (“O Escritor Fantasma”) como protagonista e Robert Duvall (“O Juiz”) no papel de Dom Quixote, mas a produção precisou ser novamente interrompida, desta vez por problemas financeiros.
Em 2015, ele chegou a anunciar uma nova tentativa, agora estrelada por Jack O’Connell (“Invencível”) e John Hurt (“O Espião que Sabia Demais”), mas a briga com o produtor português Paulo Branco adiou o projeto. Os dois se desentenderam durante a pré-produção, o que levou o diretor a entrar na justiça francesa para anular a cessão de direitos, enquanto realizava o longa com apoio de outra produtora.
Neste meio tempo, John Hurt acabou morrendo e precisou ser substituído na quarta filmagem anunciada, desta vez definitiva.
Assim, quem acabou nos papéis principais foram Adam Driver (“Star Wars: O Despertar da Força”) e Jonathan Pryce (série “Game of Thrones”).
Mas enquanto Gilliam comemorava a conclusão das filmagens amaldiçoadas no ano passado, um tribunal de Paris se pronunciou em primeira instância em favor do produtor português, embora tenha rejeitado seu pedido de interromper a produção. O cineasta recorreu e uma nova audiência da justiça francesa foi marcada para 15 de junho, data em que se saberá qual será o destino do filme.
Apesar dessa briga, o diretor pretendia realizar uma première mundial no Festival de Cannes, mas o produtor entrou com uma ação para impedir a première. A briga agora está nos tribunais franceses, que decidirão se o filme poderá ou não ser finalmente visto.