Eles não estão na competição pela Palma de Ouro, portanto longe dos principais holofotes do Festival Cannes 2018. Mas “Arctic”, “Los Silencios” e “O Grande Circo Místico” foram recebidos com aplausos durante suas pré-estreias mundiais no evento francês.
Exibido na seleção da Meia-Noite do festival, “Arctic” foi considerado uma surpresa, já que assinado por um estreante em longas, o youtuber paulista Joe Penna, que mora nos Estados Unidos desde 1999. O filme é uma coprodução islandesa e americana, estrelada pelo dinamarquês Mads Mikkelsen (“Rogue One”), e acompanha, praticamente sem diálogos, a luta pela sobrevivência do protagonista, após um acidente aéreo no meio da neve ártica. Elogiadíssimo pela imprensa internacional e comparado positivamente a “O Náufrago” (2000), “127 Horas” (2010) e “Até o Fim” (2013), o filme atingiu uma média de 89% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Parte da programação da Quinzena dos Realizadores, “Los Silencios”, da brasileira Beatriz Seigner (“Bollywood Dream — O Sonho Bollyoodiano”), também é uma coprodução estrangeira, da Colômbia e da França. A trama se passa numa comunidade de refugiados na fronteira amazônica, entre o Peru, a Colômbia e o Brasil, e a forma com que seus habitantes convivem com seus mortos rendeu comparações da crítica internacional aos dramas espirituais do filipino Apichatpong Weerasethakul. A crítica da revista The Hollywood Reporter caprichou nos adjetivos, ao definir o trabalho como “tocante” e “artística e espiritualmente nutritivo”.
Apresentado em sessão especial fora de competição, “O Grande Circo Místico” marcou a volta de Cacá Diegues à ficção cinematográfica após 12 anos – desde “O Maior Amor do Mundo” (2006). Mas até este trabalho é uma coprodução internacional, desta vez com o Brasil puxando as parcerias com Portugual e França. Além disso, foi rodado em Portugal, devido às leis que proíbem uso de animais selvagens em produções no Brasil, e destaca o ator francês Vincent Cassel (“O Filme da Minha Vida”) entre os papéis principais.
“O Grande Circo Místico” era originalmente um poema do escritor Jorge de Lima (1893-1953), que inspirou um espetáculo de dança de Naum Alves de Souza nos anos 1980 e um álbum musical homônimo de Chico Buarque e Edu Lobo. Inspirado em tudo isso, o filme conta os feitos e desventuras dos membros de uma companhia circense ao longo de um século, entre 1910 e 2010. Recebeu aplausos, mas teve as críticas internacionais mais mornas do trio.