Clint Walker (1927 – 2018)

Morreu Clint Walker, astro da série clássica “Cheyenne” e um dos “12 Condenados”. O ator americano faleceu na segunda-feira (21/5) em sua casa no interior da Califórnia, aos 90 anos, de um […]

Morreu Clint Walker, astro da série clássica “Cheyenne” e um dos “12 Condenados”. O ator americano faleceu na segunda-feira (21/5) em sua casa no interior da Califórnia, aos 90 anos, de um problema cardíaco.

Norman Eugene Walker nasceu em 30 de maio de 1927, em Hartford, Illinois. Ele deixou a escola aos 16 anos para encontrar emprego – primeiro em uma fábrica local, depois na marinha mercante.

Em 1948 ele se casou com a primeira de suas três esposas, com quem teve uma filha. Aspirando uma vida melhor, a família mudou-se para Las Vegas, onde o jovem arranjou trabalho como segurança no Sands Hotel. Foi lá que o ator Van Johnson, impressionado com seu porte físico, sugeriu que ele explorasse a atuação.

O jovem seguiu o conselho e começou a fazer testes para compôr figuração. Até que foi-lhe oferecida a oportunidade de conhecer o lendário diretor Cecil B. DeMille, que preparava a produção de seu último épico, “Os Dez Mandamentos” (1956).

Mas a caminho do estúdio, ele viu uma mulher mais velha atrapalhada com seu carro, pedindo ajuda para trocar um pneu. Ele não pensou duas vezes, mesmo que o tempo perdido na boa ação pudesse lhe custar o papel. Quando chegou à reunião, DeMille lhe disse severamente: “Você está atrasado, jovem”.

Conforme ele conta esta história, em sua biografia, Walker lembrou-se de pensar: “Uh-oh. Minha carreira terminou antes de começar!” Ele tentou se justificar, explicando que havia parado para ajudar alguém na estrada, sendo inesperadamente interrompido por DeMille. “Sim, eu sei tudo sobre isso. Aquela mulher era minha secretária”.

Walker conseguiu um papel um pouco mais destacado, como capitão dos guardas.

Isto lhe abriu as portas em Hollywood. E, logo depois, um novo encontro com outra lenda de Hollywood mudou sua vida para sempre. A começar por seu nome.

Norman virou Clint por decisão de Jack Warner, da Warner Bros., ao contratá-lo para viver seu primeiro grande papel, Cheyenne Bodie, um cowboy destemido e de bom coração, que acabou enfrentando inúmeros bandidos na televisão.

O nome do personagem, por sua vez, era herança da tribo que o criou. Os pais do rapaz foram mortos por índios desconhecidos, mas ele foi encontrado vivo por uma tribo Cheyenne, que o criou dos 10 aos 18 anos, quando ele decidiu retornar para a civilização branca. Apesar de seu passado traumático, Bodie mantinha uma atitude positiva e compreensiva em relação aos nativos americanos, algo ainda pouco comum no gênero conhecido como “bangue-bangue” por ter mais tiros que tolerância.

Lançada em 1955, “Cheyenne” foi uma das primeiras séries produzidas pela Warner e a primeira de temática western da TV americana. Parecia até cinema em comparação às demais atrações televisivas da época, tamanho o cuidado tomado pelo estúdio para inaugurar o gênero.

A série fez tanto sucesso que virou, de fato, cinema. Dois episódios de 1957 foram reunidos numa edição especial e lançados como um filme nos Estados Unidos. O impacto da produção também inspirou o surgimento de outras séries e, de uma hora para outra, a programação televisiva se viu cercada por um tiroteio de cowboys rivais.

Clint Walker não tinha quase experiência como ator quando foi selecionado por Jack Warner para a produção. Tampouco sabia andar a cavalo – aprendeu na marra.

Mas tinha um físico e uma estatura imponente, que deixava os demais atores na sombra. Tanto que as cenas de briga de “Cheyenne” costumavam ser difíceis de filmar, porque Walker ocupava toda a tela.

Não só era muito alto, com 1,80 metro, mas também tinha um peitoral de fisiculturista. E a série aproveitava ao máximo para enfatizar estas qualidades, filmando-o descamisado em diversas ocasiões, mesmo quando o enredo não pedia.

Na época, um crítico do jornal The New York Times chegou a defini-lo como “o maior e mais bonito herói ocidental a montar um cavalo, com um par de ombros capaz de rivalizar com o de King Kong”.

“Cheyenne” só não aproveitou seus belos olhos azuis porque era produzida em preto e branco. Mas quando ele apareceu nos primeiros filmes em Technicolor, seu fã-clube aumentou.

O ator aproveitou a popularidade da série para estrelar alguns westerns durante as pausas da produção. Assim, projetou-se no cinema. Os filmes da época incluem “O Rifle de 15 Tiros” (1958), “A Lei do Mais Valente” (1959) e “Ouro que o Destino Carrega” (1961), todos dirigidos por Gordon Douglas – e o último coestrelado pelo futuro 007 Roger Moore.

Além de viver outros cowboys no cinema, ele também viveu o mesmo cowboy em outras séries. “Cheyenne” deu origem a um universo compartilhado de séries de cowboys da Warner, que incluíam “Bronco”, “Sugarfoot”, “Colt. 45”, “Lawman” e a popular “Maverick”. Body até apareceu num episódio de “Maverick” de 1960, mas a principal ligação das séries se deu por conta de uma personagem vivida por Diane Brewster, que após ser introduzida num capítulo de “Cheyenne” fez quatro aparições em “Maverick”.

A série ficou no ar por sete temporadas, até 1963. Ou, mais exatamente, até o fim do contrato de Clint Walker. O ator queria ter saído da produção antes, já que tinha muitos convites para filmar e, durante um impasse na longa negociação com a Warner, chegou até a ser substituído provisoriamente por outro cowboy em sua própria série: Bronco, personagem que depois ganhou um spin-off.

Ao sair de “Cheyenne”, ele também decidiu dar um tempo nos papéis de cowboys. Foi fazer uma comédia – que virou clássico – , “Não Me Mandem Flores” (1964), como coadjuvante de Rock Hudson e Doris Day. Estrelou o único filme dirigido pelo cantor Frank Sinatra, o drama de guerra “Os Bravos Morrem Lutando” (1965). Foi parar nas selvas da Índia na aventura “Maya” (1966).

E, principalmente, se alistou na missão histórica de “Os 12 Condenados”, o clássico de 1967 que estabeleceu a fórmula dos filmes de anti-heróis, os malvados necessários, reunidos para atingir um objetivo capaz de redimi-los ou matá-los. Nada menos que o esquadrão suicida original.

Muito copiado, o filme dirigido pelo mestre Robert Aldrich acompanhava um grupo de militares americanos presos por crimes de guerra, recrutados pelo major vivido por Lee Marvin para atingir um alvo importante atrás das linhas nazistas, durante a 2ª Guerra Mundial. As chances de sucesso eram pequenas, de retornar com vida menores ainda, mas se fossem capazes de realizar o feito, eles teriam as sentenças comutadas e ainda seriam considerados heróis. Ao lado de Clint Walker, toparam a proposta personagens vividos por Charles Bronson, Donald Sutherland, Jim Brown, Telly Savalas, o cantor Trini López e até o cineasta John Cassavetes.

Foi um estouro de bilheteria, que ganhou continuações, imitações e até uma série nos anos 1980.

Também foi o ponto alto da carreira de Walker, que ao tentar retomar os filmes de cowboy, pensando em reviver seus dias de glória, acabou enveredando por um punhado de produções B que esgotaram seus créditos como ator de cinema. No melhor deles, “O Grande Búfalo Branco” (1977), voltou a contracenar com Charles Bronson.

A falta de novos sucessos o fez reaparecer na TV, numa profusão de participações especiais, inclusive como interesse amoroso de Lucille Balle no clássico sitcom “The Lucy Show”. Mas foi como seu velho personagem, Cheyenne Brody, que retomou a atenção do público.

Cheyenne Brody reapareceu depois de 30 anos sumido, em plenos anos 1990, em duas oportunidades: num telefilme do personagem “The Gambler” (vivido pelo cantor Kenny Rogers), que reunia diversos cowboys clássicos da TV, e num episódio do revival da série “Kung Fu” de 1995. Esta foi também a última aparição de Clint Walker como ator.

Depois disso, ele ainda trabalhou como dublador em “Pequenos Guerreiros” (1998), aventura infantil de Joe Dante, sobre um grupo de soldados de brinquedo criados com tecnologia de ponta que decidem levar sua missão a sério demais. Na produção, ele voltou a se juntar com alguns de seus co-protagonistas de “Os 12 Condenados”.