Assim como ocorreu com o filme “Os 10 Mandamentos”, diversos veículos da imprensa estão apontando que as sessões de “Nada a Perder”, cinebiografia do bispo Edir Macedo, estão vazias ou, pelo menos, tem lotação mediana.
Enquanto a rede Record vem produzindo reportagens encomendas, que celebram o sucesso da produção, o fato é contestado, de forma igualmente previsível, pelo jornal O Globo, que encontrou cinemas vazios no Rio exibindo a produção da empresa rival.
O filme bateu recorde de venda antecipada de ingressos no país, com a comercialização de 4 milhões de entradas para seu fim de semana inaugural. Mas, segundo apurou a revista Exame, sessões supostamente esgotadas no shopping Bourbon, em São Paulo, também tiveram lotação pela metade, e o movimento do Central Plaza Shopping teria sido ainda menor.
O portal UOL verificou que grupos evangélicos foram em “caravana” assistir algumas sessões, tendo comprado todos os ingressos, e que desistências teriam causado os espaços vazios. Mas o Globo colheu depoimentos de fiéis que afirmam ter ganhado as entradas de alguns pastores para ir de graça aos cinemas.
Não só isso. Segundo o jornal do grupo Globo, mulheres estariam distribuindo ingressos nas portas de cinemas, junto com um kit personalizado da Universal. O repórter Jan Niklas afirmou ter recebido um ingresso de graça das mãos de uma delas.
Procurada pelo Globo, a distribuidora Paris Filmes disse que não recebe informações a respeito de vendas de ingressos. Por e-mail, o departamento de comunicação social da Igreja Universal chamou de “vergonhosa a acusação” de que estaria comprando ingressos para distribuir aos fiéis.
Na época de “Os 10 Mandamentos”, houve relatos de muitas sessões vazias e que funcionários da Igreja do bispo Macedo compravam ingressos para distribuir aos fiéis, como brinde, visando estabelecer um novo recorde de bilheteria – o que acabou acontecendo.
Na época, a Igreja Universal negou o fato, assim como o faz agora, com a única diferença de atualmente fazer isso brandindo o slogan “fake news”, maior contribuição de Donald Trump para a cultura.
Em um comunicado publicado em seu site, a Universal acusa a “mídia” de “apelar” para as “fake news” para falar das salas esvaziadas, mesmo com ingressos esgotados, como ocorreu no filme anterior.
“O que existe é a mobilização espontânea de grupos e de membros da Universal, que se organizaram para que o maior número de pessoas tenha chance de assistir ao filme. Da mesma forma que os espíritas impulsionaram a audiência dos filmes ‘Chico Xavier’ e ‘Nosso Lar’, bem como os católicos que lotaram sessões para acompanhar ‘Aparecida – O Milagre’. Mas, em uma pesquisa rápida, não encontramos registros deste fato como notícia”, diz o texto.
O texto, assinado pela UNIcom, nome do departamento de comunicação social e de relações institucionais da Universal, acrescenta: “É claro que a Igreja Universal estimula seus adeptos a assistirem ao filme ‘Nada a Perder’. Temos convicção de que, além da edificante história de vida do Bispo Edir Macedo – já contada na trilogia literária best seller que baseia o roteiro -, o longa-metragem é também a história da vida das pessoas que frequentam a Universal.”
A Igreja ainda se dirige diretamente aos jornalistas, em tom de recriminação. “Talvez, alguns jornalistas imaginem que a Universal esteja proibida de recomendar filmes a seus fiéis. Pois chegaram tarde”, diz um trecho do comunicado, antes de generalizar e taxar a imprensa como “rancorosa e preconceituosa”.
“Milhões de espectadores no Brasil e no mundo irão aos cinemas para ver o que a Palavra de Deus é capaz de produzir na vida das pessoas. E não há nada que a imprensa rancorosa e preconceituosa possa fazer contra isso”, conclui o texto.