As cem artistas e intelectuais europeias que assinaram um manifesto contra o movimento #Metoo, que denuncia abusos sexuais, foram chamadas de “as tias inconvenientes do jantar em família”, que não entendem o que acontece no mundo real, por importantes feministas francesas nesta quarta-feira (10/1).
A reação veio um dia após atrizes como Catherine Deneuve, Ingrid Caven e Catherine Robbe-Grillet, que têm mais de 70 anos, assinarem um texto publicado no jornal Le Monde em que argumentam que a campanha #Metoo equivale a “puritanismo” e é alimentada por um ódio aos homens, além de defenderem o assédio “normal” – ou o direito de homens “importunarem” as mulheres.
O manifesto contrastou com o tom assumido por atrizes americanas durante a premiação do Globo de Ouro 2018, no qual Oprah Winfrey, Nicole Kidman, Laura Dern e outras personalidades de Hollywood se manifestaram contra o assédio e a desigualdade nas relações profissionais.
“Com essa coluna, elas estão tentando construir de volta o muro de silêncio que nós começamos a destruir”, disseram a ativista feminista Caroline De Haas e outras 30 mulheres, em um texto de resposta, publicado pelo site da emissora de TV Franceinfo, lembrando que milhares de mulheres usaram as redes sociais nos últimos meses para compartilhar suas histórias de agressões ou abusos sexuais, usando a hashtag #MeToo mundialmente ou #balancetonporc (#DenuncieSeuPorco) na França, após as acusações contra o produtor de cinema norte-americano Harvey Weinstein virem à tona.
Para as feministas, as artistas que se manifestaram contra o movimento “utilizam a visibilidade que dispõe na mídia para banalizar a violência sexual”. “Assim que há algum progresso com a igualdade (de gênero), mesmo de meio milímetro, algumas boas almas advertem que nós podemos estar indo longe demais”, completa o texto.
A reclamação não se resume a esta resposta. Até a ministra de Igualdade de Gênero, Marlene Schiappa, ficou incomodada com o texto de Deneuve e cia, que a certa altura chega ao absurdo de afirmar que mulheres podem ser fortes o suficiente para “não ficaram traumatizadas com assediadores no metrô”.
“É perigoso colocar nestes termos”, disse a ministra à rádio France Culture, lembrando que o governo já tem dificuldades para convencer jovens mulheres de que elas não têm culpa quando alguém as assedia e de que elas devem ir à polícia prestar queixas quando isso acontece.