Autora do livro que inspirou The Handmaid’s Tale se diz contra radicalização do movimento #Metoo

A escritora canadense Margaret Atwood, autora do livro “O Conto da Aia”, que deu origem à premiada série “The Handmaid’s Tale” (vencedora do Emmy 2017 e Globo de Ouro 2018), entrou em […]

A escritora canadense Margaret Atwood, autora do livro “O Conto da Aia”, que deu origem à premiada série “The Handmaid’s Tale” (vencedora do Emmy 2017 e Globo de Ouro 2018), entrou em guerra contra feministas por se manifestar contra o movimento #Metoo e defender o julgamento justo para homens acusados de assédio ou abuso sexual.

Em um texto escrito para o jornal canadense Globe and Mail, Atwood reconhece que o #Metoo despertou a sociedade para um problema importante, além de ser um sintoma de um “sistema legal danificado”. No entanto, questionou o que querem as mulheres do movimento.

“Se o sistema legal é ignorado porque é visto como ineficaz, aonde vamos chegar? Quem serão os novos mediadores?”, perguntou, questionando quem decide os limites e as consequências. Segundo ela, sem limites, “as extremistas vencem”. “A ideologia delas vira uma religião. Qualquer um que não compartilha de suas visões é visto como herege ou traidor. O meio-termo é eliminado.”

Para reforçar seu argumento, ela lembrou da vez em que foi chamada de “má feminista” por ter assinado um carta aberta, no ano passado, defendendo um julgamento justo de um amigo, um professor da University of British Columbia, acusado de má conduta sexual. O professor acabou demitido, mas o assédio não chegou a ser comprovado.

“As pessoas, incluindo eu, ficaram com a impressão de que aquele homem era um estuprador violento, e todo mundo sentiu-se livre para atacá-lo publicamente”, continuou a escritora. “Sendo que uma pessoa com uma mentalidade justa aguardaria o julgamento até a investigação e as evidências ficarem claras.”

O texto de Margaret Atwood causou revolta nas redes sociais. O jornal inglês The Guardian citou vários posts de mulheres que consideraram o posicionamento da escritora como uma “declaração de guerra” contra as vítimas de assédio.

“Uma das vozes feministas mais importantes da atualidade desprezou mulheres menos poderosas para manter o poder de um amigo homem”, disparou uma usuária no Twitter.

Outros internautas argumentaram que Margaret usou a sua “posição de poder” para silenciar as mulheres que acusaram Steven Galloway, o professor universitário.

Em nota ao The Guardian, Margaret Atwood esclareceu que “endossar direitos humanos básicos não equivale a declarar guerra contra as mulheres”.

E foi ecoada por seguidores que acusam feministas de fazer bullying. “Nas notícias distópicas de hoje: Mulheres atacam e tentam silenciar outra mulher. E não uma mulher qualquer, mas uma das vozes mais importantes dos nossos tempos. Tem certeza que vocês são as campeãs da luta pelos direitos e liberdades das mulheres que julgam ser?”, resumiu o tuíte de uma defensora da escritora.

O livro mais famoso da escritora, “O Conto da Aia”, mostra um futuro distópico, em que mulheres não tem direitos e são condenadas a uma vida de estupros oficiais por parte de homens poderosos. Resistir ou protestar pode render destino pior, como banimento para uma vida equivalente à escravidão em colônias rurais. Levada para as telas na série “The Handmaid’s Tale”, a história é, ironicamente, considerada metáfora perfeita do momento atual, manifestado pelo movimento #Metoo.