Thor: Ragnarok tem lançamento superpoderoso em mais de 1,3 mil cinemas

O lançamento de “Thor – Ragnarok” engole o circuito nacional, ocupando 1378 salas nesta quinta (26/10). O predomínio é tanto que o fim de semana registra uma das menores quantidades de estreias […]

O lançamento de “Thor – Ragnarok” engole o circuito nacional, ocupando 1378 salas nesta quinta (26/10). O predomínio é tanto que o fim de semana registra uma das menores quantidades de estreias do ano. São apenas mais cinco filmes. Clique nos títulos destacados para ver os trailers de todas as estreias.

Neste caso, o maior também é o melhor. Isto porque o terceiro longa do deus loiro da Marvel troca o tom épico e solene dos filmes anteriores pelo humor piadista de “Guardiões da Galáxia”. O resultado é praticamente uma comédia com super-heróis, uma opção que deixa Chris Hemsworth à vontade para demonstrar seu talento como humorista. Até o Hulk aparece falando pela primeira vez, apenas para contar piadas.

E não é só o humor, o visual de Thor também mudou – ele tem o cabelo raspado – , assinalando um make over completo da franquia. Os novos rumos são cortesia do diretor Taika Waititi (“O Que Fazemos nas Sombras”), especialista em comédias, que realizou um dos filmes mais divertidos da Marvel – a ponto de arrancar impressionantes 97% de aprovação no site Rotten Tomatoes.

Cate Blanchett é um show à parte como a vilã Hela, e também pode ser vista em dose dupla, tripla, quíntupla aos cinemas com o lançamento simultâneo do australiano “Manifesto” no circuito limitado. Ela interpreta nada menos que 13 papéis diferentes neste filme, que não é exatamente um filme.

“Manifesto” foi originalmente concebido como uma exposição do Australian Center of Moving Image em dezembro de 2016, na qual as cenas eram projetadas em várias telas diferentes. O diretor e roteirista Julian Rosefeldt decidiu montar todas essas sequências desconexas como um longa-metragem e fez sua première mundial no Festival de Sundance 2017. Por isso, não há trama, apenas monólogos inspirados em diversos manifestos de vanguardas artísticas, como dadaísmo e futurismo. Até texto de Lars Von Trier (“O Anticristo”) é citado, em evocação ao movimento Dogma 95.

A programação inclui mais dois filmes americanos menos recomendados, após passarem em branco nas bilheterias dos Estados Unidos e serem trucidados pela crítica. Ambos são biográficos.

“Mark Felt – O Homem que Derrubou a Casa Branca” aborda o escândalo Watergate e traz Liam Neeson (“Busca Implacável”) como o misterioso Garganta Profunda (Deep Throat). O maior escândalo político americano começou em 1972, com a invasão do prédio Watergate, onde estava alojado o comitê nacional do Partido Democrata, em Washington. Cinco pessoas foram detidas quando tentavam fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no escritório do partido. Mas a cúpula do FBI tentou interromper a investigação. O acobertamento envolveu altas esferas do governo federal e acabou denunciado numa série de reportagens históricas do jornal Washington Post, graças a uma fonte secreta no próprio FBI: Garganta Profunda. A investigação jornalística sacudiu o poder e levou à renúncia do presidente Richard Nixon em 1974, quando estava prestes a sofrer um processo de impeachment.

Esta história já rendeu um drama clássico, “Todos os Homens do Presidente” (1976), centrados nos jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein (vivido por Dustin Hoffman) e Bob Woodward (Robert Redford). Mas embora o filme recriasse os encontros secretos numa garagem subterrânea entre Woodward e o informante, ninguém sabia quem era Garganta Profunda na época. Apenas 30 anos depois, o ex-vice-diretor do FBI Mark Felt revelou ter sido a fonte das denúncias. Agora, o diretor Peter Landesman (“Um Homem entre Gigantes”) filma a sua versão da história, sem acrescentar nada que supere a obra de 40 anos atrás – 32% no Rotten Tomatoes.

“Pelé – O Nascimento de uma Lenda” tem a curiosidade de ser um filme americano sobre um ídolo brasileiro. Era para ter sido lançado durante a Copa do Brasil e, às vésperas da Copa da Rússia, virou um gol contra, especialmente pela estranheza causada por sua opção pelo idioma inglês. Brasileiros falam inglês bem devagarzinho, com sotaque, ao lado de americanos que os imitam, no velho truque de Hollywood de fazer de conta que os personagens estão falando um idioma diferente – vide Kate Winslett com sotaque alemão em “O Leitor” e Harrison Ford com sotaque russo em “K-19: The Widowmaker”. O detalhe é que a luta com o sotaque interfere na performance do americano Vincent D’Onofrio (“Jurassic World”), que fala de forma pausada e hesitante em todas as suas aparições como o técnico brasileiro Feola – num elenco que destaca amadores mirins brasileiros no papel-título, além de Seu Jorge, Milton Gonçalves e Rodrigo Santoro. O tom assumido de hagiografia completa o placar final: uma derrota humilhante de 22%.

Em tom oposto, ainda há uma terceira biografia entrando em cartaz. A comédia francesa “O Formidável” (Le Redoutable) transforma o cineasta Jean-Luc Godard em personagem. Na trama, Louis Garrel (“Dois Amigos”) encarna – de forma fisicamente convincente – o enfant terrible da nouvelle vague no final dos anos 1960, quando iniciou seu romance com a atriz alemã Anne Wiazemsky (Stacy Martin, revelação de “Ninfomaníaca”) nos bastidores de “A Chinesa” (1967). Ele tinha 37 anos e ela apenas 19 anos na época, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década.

A trama é baseada no livro autobiográfico “Un An Après”, de Wiazemsky, que faleceu no início do mês. E tem direção de Michel Hazanavicius, que retorna ao tema dos bastidores cinematográficos de “O Artista”, seu filme mais conhecido – e que lhe rendeu do Oscar de Melhor Direção em 2012. A première aconteceu no Festival de Cannes 2017, onde seu retrato debochado de Godard dividiu opiniões – de forma sintomática, registra 52% no Rotten Tomatoes.

A programação se completa com outro lançamento europeu: “Missão Cegonha”, animação digital de bichos falantes dos mesmos realizadores de “Epa! Cadê o Noé?” (2015). Desenho genérico, parte da fábula do “Patinho Feio” para virar um “Procurando Dory” com passarinhos que não chegaram ao “Rio”, porque queriam ir para “Madagascar”. Na trama, um pardal chocado por cegonhas é deixado para trás quando os pais migram para a África e ele não consegue acompanhá-los, mas logo encontra outros passarinhos, inclusive um bem doméstico, que o ajudam a fazer a viagem.