Após “um tempo para processar” as acusações de abuso sexual contra Harvey Weinstein, que distribuiu todos os seus filmes desde “Cães de Aluguel” (1992), o cineasta Quentin Tarantino admitiu ao jornal The New York Times que sabia de alguns episódios de assédio envolvendo o produtor e confessou sentir-se envergonhado por não ter feito nada a respeito.
“Eu sabia o suficiente para fazer mais do que eu fiz. Existia mais do que apenas rumores ou fofocas normais. Eu não sabia de ouvir falar. Eu sabia que ele tinha feito algumas dessas coisas”, contou Tarantino. “Eu gostaria de ter tomado alguma atitude contra o que ouvi. Se eu tivesse feito o que podia ser feito, não deveria mais trabalhar com ele”.
Segundo o cineasta, Mira Sorvino, sua ex-namorada — que foi à público recentemente para acusar Weinstein de assédio —, contou-lhe as atitudes do produtor na época em que aconteceram. Tarantino ouviu ainda uma história semelhante de outra atriz, e sabia o que Weinstein tinha feito com Rose McGowan.
Por mais que estivesse ciente do que acontecia, Tarantino disse que não juntou os relatos para perceber que se tratava de um comportamento padrão de Weinstein, e continuou fazendo filmes com ele: “O que eu fiz foi marginalizar os incidentes. Qualquer coisa que eu fale agora vai soar como uma desculpa idiota”.
Sobre o caso envolvendo Mira Sorvino, o cineasta disse que diminuiu o peso do incidente por achar que Weinstein tinha um interessa particular na atriz, o que fez ultrapassar os limites. Depois, quando começou a namorar Mira, Tarantino achou que o produtor a deixaria em paz.
Mas um segundo relato envolvendo uma atriz não identificada fez finalmente o diretor confrontar o amigo. Segundo ele, Weinstein se desculpou com a atriz após ser cobrado – o que Tarantino considerou um “pedido de desculpas fraco”.
Por fim, Tarantino pediu para que Hollywood leve mais a sério histórias como estas, que ele próprio não levou. E fez um chamado para os homens da indústria. “Não façam apenas comunicados de apoio. Reconheçam que há algo de errado no reino da Dinamarca. Façam o melhor para nossas irmãs”.
Tarantino era um dos parceiros mais antigos de Weinstein, que começou a distribuir os filmes do diretor a partir de “Cães de Aluguel” (1992), e a produzi-los desde “Pulp Fiction” (1994), um dos primeiros sucessos da Miramax, o estúdio inicial dos irmãos Weinstein. Além disso, “Django Livre” é a maior bilheteria da história da Weinstein Company.
Mais que colegas de trabalho, os dois era amigos de verdade, a ponto de Weinstein ter feito uma festa de noivado para Tarantino em setembro – há poucos dias.
Mais de 40 mulheres já declararam terem sido abusadas pelo produtor desde que a atriz Ashley Judd tomou coragem para ser a primeira a denunciar publicamente o comportamento do magnata, numa reportagem do jornal The New York Times, publicada em 5 de outubro. Em pouco mais de uma semana, diversas estrelas famosas compartilharam suas experiências de terror com Weinstein, entre elas Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Rose McGowan, Léa Seydoux e Cara Delevingne. Uma reportagem ainda mais polêmica, da revista New Yorker, apresentou as primeiras denúncias de estupro, inclusive da atriz Asia Argento.
Após o escândalo ser revelado, Weinstein foi demitido da própria produtora, The Weinsten Company, teve os créditos de produtor retirado de todos os projetos em andamento de que participa e foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pelo Oscar, e pelo BAFTA, a Academia britânica, além do Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos (PGA). Ele também deve enfrentar um processo criminal.