Luc Besson não é o melhor dos realizadores quando o assunto é roteiro, diálogos e dramaticidade. Mesmo quando faz filmes históricos, como foi o caso de “Joana D’Arc” (1999). Seu novo filme, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” (2017) guarda parentesco com um de seus trabalhos mais marcantes, a aventura sci-fi “O Quinto Elemento” (1997), e é puro visual, a ponto de praticamente dispensar a trama.
Vinte anos separam os dois filmes, mas há muito em comum neles, principalmente a ambição e o capricho na direção de arte de espaços inventados e incrivelmente belos e coloridos. E pode-se dizer isso num momento em que efeitos digitais raramente impressionam. O filme de Besson tem imagens tão espetaculares que nem mesmo os óculos escuros do 3D conseguem atrapalhar. Ao contrário, é um dos raros exemplares em que a tecnologia soma pontos ao filme.
A produção mais cara da história do cinema europeu é uma adaptação dos quadrinhos franceses do herói espacial Valerian, criado em 1967, o ano mais lisérgico do século 20. Até por isso, o filme flui como uma espécie de viagem de ácido, gerando uma das mais bonitas e interessantes experiências sensoriais dos últimos anos.
O problema é a dificuldade que Besson tem em transformar seus filmes em algo um pouco mais elaborado, no que diz respeito à construção dos personagens, aos diálogos (algumas vezes constrangedores) e à narrativa em si, que é bem problemática. Por isso, o melhor é se perder na viagem, compensando com a beleza da paisagem os inúmeros problemas da produção, que já começam com a escalação de Dane DeHann (“O Espetacular Homem-Aranha 2”) no papel-título, cuja personalidade sorumbática não combina com o personagem. Por outro lado, a modelo e atriz Cara Delevingne (“Esquadrão Suicida”) está muito bem como Laureline, a parceira do herói na aventura, que chega a eclipsar o protagonista com o charme, beleza e inteligência da personagem. Mas falta química à dupla.
Um dos detalhes que mais chama a atenção em “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” é sua semelhança com o universo e trama de “Star Wars”. Entretanto, desta vez não se trata de plágio. Os quadrinhos de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières foram mesmo grande influência para a franquia de George Lucas. Há até mesmo um vilão parecidíssimo com Jabba the Hutt. Quanto às apontadas semelhanças dos Pearls com os Na’vi de “Avatar”, talvez isso tenha sido puramente acidental.
Também se destaca a ação non-stop, que soma o gosto do próprio Besson pelo cinema de aventura hollywoodiano com o ritmo dos quadrinhos, que se caracterizam por dar pouco espaço para um respiro – no filme, os poucos momentos de tranquilidade são aqueles em que Valerian tenta convencer sua parceira Laureline a casar com ele.
A ausência de uma construção narrativa satisfatória é compensada por essa bagunça de certa forma divertida, sustentada por um dos mais brilhantes trabalhos de direção de arte e efeitos visuais do cinema contemporâneo. O problema é que a produção dura duas horas e nem mesmo a paisagem mais linda do mundo é capaz de sustentar um fiapo de trama por tanto tempo.