Maior estreia da semana, “A Bela e a Fera” chega em 1,2 mil salas brasileiras nesta quinta-feira (16/3), 70% delas em 3D. O filme ocupa ainda 35 salas com 4D (movimento de cadeiras) e todas as 12 telas IMAX.
Ao contrário de outros esforços da própria Disney, que inseriram diversas novidades nas adaptações com atores, é a mais fiel das versões com atores das animações do estúdio, tanto que parece um remake do filme de 1991, com direito até às mesmas músicas – e mais três inéditas. As poucas mudanças refletem o espírito independente da Bela vivida por Emma Watson (franquia “Harry Potter”) e a percepção da sexualidade de Lefou, que passaria incólume pelos vovozinhos conservadores, não tivesse o diretor alertado sobre isso. Vale observar que a crítica americana gostou, mas não se apaixonou, com 68% de aprovação na média do site Rotten Tomatoes.
A chegada de “A Bela e a Fera” também confirma que a temporada de blockbusters começou mais cedo em 2017 – imediatamente após a entrega do Oscar, com os lançamentos consecutivos de “Logan” e “Kong – A Ilha da Caveira”. E, graças à concentração destes filmes no circuito, apenas outro filme tem distribuição em mais de 100 salas nesta semana: a comédia “Tinha que Ser Ele?”, em que Bryan Cranston (série “Breaking Bad”) descobre que será sogro de James Franco (“A Entrevista”). A disputa entre sogro e noivo já rendeu até franquias, como “Entrando Numa Fria”, e quando as piadas são velhas, o sorriso é amarelo. 40% de aprovação no RT.
Longe dos shoppings, o circuito limitado recebe nada menos que oito filmes brasileiros, metade deles documentários. Os destaques são duas obras de ficção, a comédia “La Vingança” e o drama “Era o Hotel Cambridge”.
“La Vingança” surpreende por ser realmente divertido. Uma comédia brasileira que faz rir deve ser exaltada como uma novidade muito bem-vinda. Infelizmente, não parece ser o que o mercado quer. Enquanto qualquer besteirol estreia em mais de 500 salas, “La Vingança” está sendo exilada em 20 salas. E este é o maior lançamento nacional da semana!
Vai ver, é porque faltam atores de novelas. Só há Leandra Leal (“O Lobo Atrás da Porta”), que tem um pequeno papel. A história do ator Jiddu Pinheiro (“O Uivo da Gaita”), Thiago Dottori (“Vips”) e Pedro Aguilera (criador da série “3%”) gira em torno do personagem de Felipe Rocha (“Nise: O Coração da Loucura”), que após flagrar a traição da mulher (não muito Leal) com um argentino, resolve se vingar indo com seu melhor amigo até o país vizinho para transar com argentinas. A tradicional rivalidade rende boas piadas e marca a estreia na direção do produtor Fernando Fraiha (“Reza a Lenda”).
“Era o Hotel Cambridge” tem clima completamente diferente. O filme de Eliane Caffé (“O Sol do Meio Dia”) se passa num prédio de São Paulo invadido por sem-tetos, destaca histórias de imigrantes, a organização interna dos moradores e a luta contra a reintegração de posse, com direito à tropa de choque. Socialmente relevante e muito bem realizado, venceu o Prêmio do Público no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo. Mas só chega em 12 salas.
As outras duas ficções são a animação “História Antes de uma História”, uma experiência de metalinguagem para o público infantil, e o drama “Com os Punhos Cerrados”, uma experiência de metalinguagem para universitários, realizada pelo coletivo Alumbramento.
Entre os documentários, “Jonas e o Circo sem Lona” tem a distribuição mais ampla, em 20 salas. Exibido em festivais pelo mundo, o filme de Paula Gomes foca um menino que enfrenta o desafio de amadurecer enquanto sonha com o picadeiro. Os demais são “Pedro Osmar, Prá Liberdade que se Conquista”, um manifesto político-musical sobre o músico Pedro Oscar, “Por um Punhado de Dólares – Os Novos Emigrados”, sobre imigrantes nos EUA, e “Estopô Balaio”, que retrata uma região degradada de São Paulo.
A programação também inclui três títulos franceses. Indicado a quatro prêmios César (o Oscar francês), “Os Cowboys” é uma espécie de versão moderna de “Rastros de Ódio” (1965), em que um pai parte à cavalo em busca da filha desaparecida por territórios inóspitos. O filme marcou a estreia na direção de Thomas Bidegain, roteirista dos melhores filmes de Jacques Audiard, “O Profeta” (2009), “Ferrugem e Osso” (2012) e o vencedor da Palma de Ouro “Dheepan: O Refúgio” (2014).
Mais tradicional, “O Filho de Joseph” acompanha um adolescente em busca do pai que nunca conheceu, numa história que vai do drama ao humor – e ainda evoca um tema bíblico – , escrita e dirigida por Eugène Green (“A Religiosa Portuguesa”).
Já “Fatima”, do marroquino Philippe Faucon (“Samia”), lembra “Que Horas Ela Volta?” (2015) ao acompanhar uma mãe pobre e imigrante, que trabalha como faxineira e luta para manter as filhas na escola. Enquanto a mais nova vive sua rebelião adolescente, sem respeito pela mãe “burra” que mal fala francês, a mulher do título sacrifica a própria saúde para dar à filha mais velha a chance de cursar a faculdade. Mais premiado dos filmes da semana, venceu o César 2016 de Melhor Filme, Roteiro e Atriz Revelação.
Fecha a programação o sul-africano “Eles Só Usam Black Tie”, que já pelo pôster demonstra como o título nacional é equivocado. Mas o original “Necktie Youth” (juventude engravatada, em tradução literal) também é problemático para nomear um retrato em preto e branco da juventude ostentação da África do Sul (que só usa tênis e jeans). Elogiadíssimo pela crítica internacional, é uma viagem por sexo, drogas e trilha jazzy que rendeu alguns prêmios em festivais internacionais.
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