A competição do Festival de Berlim 2017 ainda não empolgou. Após as palmas comedidas para “Django”, na abertura do evento, o remake americano “The Dinner” teve recepção gélida em sua sessão para a imprensa, na tarde desta sexta (10/2), mas rendeu uma entrevista coletiva repleta de tiradas políticas de seu astro, Richard Gere (“O Exótico Hotel Marigold 2”), repercutidas no mundo inteiro.
Baseado num romance do holandês Herman Koch, já filmado em 2013, “The Dinner” é a segunda parceria consecutiva entre Gere e o cineasta israelense-americano Oren Moverman, após o drama de sem-teto “O Encontro”, de 2014. Como o título adianta, a trama se passa durante um jantar de família. Nele, dois irmãos estremecidos, vividos pelo astro e Steve Coogan (“Philomena”), e suas respectivas mulheres, Rebecca Hall (“Homem de Ferro 3”) e Laura Linney (“Sully”), discutem as consequências de um crime cometido por seus filhos. O personagem de Gere é um político que pode perder tudo se o caso vier à tona.
Preenchido por retórica interminável, a trama debate até doença mental e racismo, e inclui um flashback em que os irmãos visitam Gettysburg, na Pensilvânia, onde ocorreu a mais famosa batalha da Guerra Civil americana, no século 19.
“Aquele local é o mais sangrento da história dos Estados Unidos. É a metáfora para o pecado original na sociedade americana: irmãos lutando contra irmãos”, disse o diretor, na entrevista coletiva realizada no festival.
O tema serviu para Gere se posicionar publicamente contra a política migratória do governo de Donald Trump, fazendo um paralelo entre a trama e a decisão do presidente dos EUA de impedir o ingresso nos Estados Unidos de imigrantes de setes países de população muçulmana e erguer um muro na fronteira com o México. “É um filme sobre o medo, e como o medo leva as pessoas a cometer coisas horríveis”, disse Gere.
“Hoje, nos Estados Unidos (terroristas e refugiados) significam a mesma coisa”, lamentou o ator, para quem esta associação de ideias “é a pior coisa feita por Trump”.
“Antes tínhamos empatia por um refugiado. Era alguém a quem dávamos atenção, queríamos ajudar, a quem queríamos dar um teto”, declarou o ator, que é budista e conhecido por defender os direitos Humanos e a causa tibetana. “Infelizmente, temos líderes que atiçam o medo, e esse medo nos leva a fazer coisas terríveis”, retomou. “O número de crimes motivados por ódio nos Estados Unidos aumentou muito desde que ele foi eleito”.
Perguntado sobre o que faria caso estivesse em um jantar com o presidente americano, o ator de 67 anos riu da possibilidade. “Eu não estaria nesse jantar. Nem seria convidado.”