Há uma diferença entre a estreia principal e a mais ampla nesta semana. Mas ela se resume a 34 salas. “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo” exibe em 270 telas o segundo filme de uma “trilogia” de parcerias consecutivas entre o ator Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg, que antes fizeram “O Grande Herói” e logo voltarão aos cinemas com “Dia do Atentado”. Os títulos deixam claro o tema das produções, todas baseadas em histórias reais. A atual gira em torno do heroísmo de trabalhadores de uma plataforma de petróleo durante um terrível acidente em alto mar. No fundo, é cinema de catástrofe ao estilo dos anos 1970, com os efeitos dos dias de hoje.
O segundo lançamento mais amplo é o melodrama “Pequeno Segredo”, o candidato do Brasil a uma vaga no Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. O filme de David Schürmann leva a 236 salas outra história real, vivida por sua própria família, que adotou uma menina soropositiva durante suas viagens de barco ao redor do mundo. Tem bela fotografia – do peruano Inti Briones, que já foi premiado no Festival de Veneza – e uma mensagem positiva, mas a expectativa de um “filme de Oscar” é sempre por mais conteúdo.
A programação lista mais um filme brasileiro. “Através da Sombra” também tem produção caprichada, como se espera do veterano cineasta Walter Lima Jr., que ao longo da carreira se aventurou com coragem pelo cinema fantástico, por meio de filmes como “Ele, o Boto” (1987), “O Monge e a Filha do Carrasco” (1996) e “A Ostra e o Vento” (1997). Seu novo trabalho se passa numa mansão mal-assombrada, com direito a fantasmas e crianças sinistras. Adaptação de “A Volta do Parafuso”, clássico fantástico de Henry James, já filmado várias vezes, o longa também registra um dos últimos papéis da carreira de Domingos Montagner, falecido em setembro.
O circuito dos shoppings ainda exibe mais dois filmes americanos. “Invasão de Privacidade” revisita em 167 salas o tipo de suspense de inimigo íntimo que se esgotou nos anos 1990. Na trama, Pierce Brosnan vive um milionário ameaçado por um estagiário de T.I. da sua empresa. “Snowden – Herói ou Traidor” também tem doses de suspense e informática, mas parte de uma história real. Exibido em 83 telas, o filme de Oliver Stone é uma cinebiografia do analista de sistemas Edward Snowden, que virou o homem mais procurado dos EUA depois de denunciar o esquema de espionagem global do governo americano.
“Snowden” chegou a ser considerado “filme de Oscar”, mas a estreia acabou com essa ilusão. O mesmo pode ser dito de “O Nascimento de uma Nação”. Estrelado, dirigido, escrito e produzido por Nate Parker, o filme sobre uma rebelião de escravos no período anterior à Guerra Civil americana foi o grande vencedor do Festival de Sundance e colecionou elogios rasgados em sua première. Mas o clima de “já ganhou o Oscar” trouxe à tona um antigo escândalo sexual do cineasta, que jogou água no champanhe. Tanto que a Fox faz um lançamento discreto, em apenas 12 salas.
Outra produção indie, “O Plano de Maggie” junta três queridinhos da crítica, Greta Gerwig, Ethan Hawke e Julianne Moore, numa comédia anti-romântica com reviravoltas subversivas. Menos ambicioso de todos os lançamentos americanos da semana, o longa escrito e dirigido por Rebecca Miller (“A Vida Íntima de Pippa Lee”) é justamente o mais divertido, ainda que totalmente descartável. Em 18 salas.
Três lançamentos europeus completam a lista, com exibição em menos de cinco salas. Mais fraco da leva, “O Ignorante” é o indefectível filme francês da semana, em que um diretor e um elenco que já fizeram clássicos revelam-se velhinhos tediosos – quem tiver paciência pode comparar com “Once More” (1988), do mesmo Paul Vecchiali.
Por outro lado, o franco-marroquino “Much Loved” mostra a consistência da diretora Nabil Ayouch (“As Ruas de Casablanca”), que há mais de 20 anos traz à tona as margens da sociedade marroquina. Seu olhar sem retoques sobre a vida de prostitutas do norte da África venceu o troféu Lumiere de Melhor Filme Estrangeiro Falado em Francês de 2016.
Para finalizar, o drama dinamarquês “Quando o Dia Chegar”, de Jesper W. Nielsen (“Okay”), é a maior porrada desta página. Vencedor do prêmio do público do Festival de Hamburgo e recém-exibido na Mostra de São Paulo, passa-se num orfanato, durante os anos 1960, e mostra crianças submetidas a diversos abusos para ganharem disciplina, até se rebelarem. A trama remete diretamente ao clássico “Os Incompreendidos” (1959), mas é, como boa parte das estreias, baseada numa história real.
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