Tô Ryca! recicla história conhecida em busca do grande público

Há filmes que funcionam mais como um estudo antropológico do que para serem apreciados por suas qualidades. É mais ou menos o caso de “Tô Ryca!”, de Pedro Antonio, que se assume […]

Há filmes que funcionam mais como um estudo antropológico do que para serem apreciados por suas qualidades. É mais ou menos o caso de “Tô Ryca!”, de Pedro Antonio, que se assume popularesco mais do que popular, que pretende dar voz a uma parcela pobre da sociedade que vai ao cinema e vai gostar de se ver na tela, nem que seja nos pequenos dramas de não ter crédito para colocar no celular ou de só poder ligar para alguém da mesma operadora. Dá para ficar pensando como esse tipo de situação será visto daqui a dez anos.

Herdeiro das comédias que tratam de pessoas pobres em contraste com pessoas ricas ou mais sofisticadas, “Tô Ryca!” remete às chanchadas dos anos 1950. Mas ultimamente essa obsessão pelo dinheiro aparece cada vez mais presente, em filmes como “Até que a Sorte nos Separe” (2012), “Vai que Cola” (2015) e “Um Suburbano Sortudo” (2016). Diz muito sobre a nossa sociedade. Ou nosso cinema. Refletindo como as pessoas parecem mais interessadas em futilidades que conteúdo.

Na trama extremamente simples, que funciona mais como um jogo, Selminha (Samantha Schmütz) é uma moça humilde que trabalha como frentista e vive reclamando da pobreza com sua melhor amiga Luane (Katiuscia Canoro). Até o dia em que ela recebe uma proposta de herança de um velho familiar. Ela teria que gastar R$ 30 milhões em um intervalo de um mês sem dizer a ninguém sobre isso e sem adquirir nenhum bem. A tarefa se mostra mais difícil do que ela imagina, como bem sabe quem já assistiu “Chuva de Milhões” (1985), que é basicamente a mesma história – inclusive no numerário e na parte política.

“Tô Ryca!” quase consegue atingir um certo grau de decência graças à presença de Marcelo Adnet, que interpreta o político da linha conservadora desta “versão”, um “homem de bem”. Como Adnet é muito inteligente na criação dos mais variados tipos, ele se mostra muito à vontade no papel. É pequena a sua participação, mas é marcante, especialmente no terço final. É possível dar boas gargalhadas na cena do debate para prefeito do Rio de Janeiro entre ele e Selminha, a tal moça que tem a possibilidade de ficar milionária.

O filme não é tão feio quanto aparenta, com seu elenco do programa “Zorra Total”, nem é uma tortura como muitos possam imaginar. É um filme que tem agradado ao grande público, que sai da sessão feliz. Além do mais, é uma das últimas vezes em que se poderá ver Marília Pêra no cinema. Ainda que por pouquíssimos minutos.