Um susto produz uma queda. Homem desconhecido, não deu nem para ver o rosto. E se ele tiver morrido? É preciso socorrê-lo. Mas a garota atrapalhada, vestida de morte para animar festas infantis, se perdeu e já está muito atrasada. Um telefonema para a polícia resolve isso. É só usar o celular e se mandar…
E agora? Fazer de conta de que nada aconteceu? Impossível. A culpa não deixaria. Será que ele morreu? É preciso saber. Parece que está em coma. Ufa! Ainda há reparação possível. É preciso descobrir quem ele é, como vive, onde mora. Entrar na sua vida, cuidar das suas necessidades. E até de seu filho. Quem sabe, amá-lo.
A trama de “Esperando Acordada” explora as circunstâncias fortuitas da vida que podem mudar tudo de uma hora para outra. E as adaptações e acomodações que temos de fazer para dar conta da nova situação.
A insatisfação, a infelicidade, a mediocridade são componentes rotineiros da vida das pessoas. Se algo extraordinário acontece, o sentido dessas vidas pode até se iluminar, descobrir algo onde quase não havia nada.
O filme da cineasta francesa Marie Belhomme traz essa história curiosa e transformadora, apresentando um caso de amor e dedicação, ancorado na expiação da culpa e no fascínio pela vida do outro. Como estreia em longas da diretora, é um bom começo.
Isabelle Carré (“Românticos Anônimos”) faz a jovem Perrine, com todas as nuances que o personagem pede, e carrega o filme. Apesar de haver no elenco ninguém menos do que Carmen Maura (“Volver”), que sempre será lembrada pelos incríveis papéis que fez nos filmes de Pedro Almodóvar. Aqui, ela parece um tanto deslocada, numa função coadjuvante, sem maior brilho. Philippe Rebbot (“Os Cavaleiros Brancos”) e Nina Meurisse (“Além do Arco-Íris”) completam o elenco com eficiência.
“Esperando Acordada” não é nenhuma grande obra do cinema, mas é uma graça de filme.