“O Lobo de Wall Street” contava a história de um golpista que ficava milionário ao fraudar a bolsa de valores. Mas a ficção também serviu para alimentar um escândalo financeiro em seus bastidores. A produtora Red Granite, responsável pelo longa dirigido por Martin Scorsese, estrelado por Leonardo DiCaprio e indicado a cinco Oscar em 2014, está sendo acusada de desviar mais de US$ 100 milhões de um fundo público da Malásia para a produção do filme.
Revelado em fevereiro pelo site Deadline, o esquema de lavagem de dinheiro virou processo conduzido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que investiga os produtores Riza Aziz e Christopher “Joey” McFarlan, fundadores da Red Granite, o agente e financista malaio Low Taek Jho, um chefe de investimentos do fundo 1MDB (1Malaysia Development Berhad) e até um ator que participou de “O Lobo de Wall Street” em um “papel principal”.
O valor total desviado da estatal estaria na casa de US$ 3 bilhões. Desde o ano passado, o 1MDB está no centro de um grande escândalo de corrupção, que teria participação de políticos, banqueiros e empresários. Segundo o Departamento de Justiça americano, agentes do 1MDB usavam a conta do fundo como “conta pessoal de banco”.
Segundo a acusação, os envolvidos no esquema usaram empresas de fachada para pagar dívidas de jogo em Las Vegas, iates de luxo alugados, um decorador de interiores, além de US$ 35 milhões gastos com uma empresa de jato particular.
O principal foco da investigação é a atuação de Low Taek Jho, conhecido como Jho Lo. Ele é acusado diretamente de lavar mais de US$ 400 milhões desviados de fundos. No final de “O Lobo de Wall Street”, o agente recebe agradecimento especial da produção do longa dirigido por Martin Scorsese.
Criado em 2009 pelo primeiro ministro malaio Najib Razak, o 1MDB tem como objetivo proporcionar bem-estar econômico e social à população malaia. Jho Low foi um de seus idealizadores.
Em entrevista coletiva realizada na quarta (20/7) em Washington, a procuradora da divisão criminal do Departamento de Justiça dos EUA, Leslie Caldwell, afirmou tratar-se de uma “complexa teia de transações usadas para lavar bilhões de dólares roubados do povo da Malásia”.
Além de empregar o dinheiro para financiar o filme, orçado em cerca de US$ 155 milhões, a Red Granite teria usado desvios do fundo estatal malaio para adquirir imóveis em várias partes do mundo, avaliados em US$ 100 milhões.
De acordo com a Justiça americana, os direitos futuros sobre “O Lobo de Wall Street”, que arrecadou US$ 392 milhões globalmente, estão agora sujeitos a confisco, assim como os bens da Red Granite.
“Nem o 1MDB nem o povo da Malásia viu um centavo de lucro a partir desse filme ou de qualquer um dos outros bens que foram comprados com dinheiro desviado de fundos.”
Os escritórios da empresa Red Granite m Los Angeles não abrem desta quarta.