Curioso como um dos filmes mais controversos do ano seja justamente uma comédia boba e inofensiva como “Caça-Fantasmas” (2016), de Paul Feig. Tudo pela “polêmica” em torno da substituição de homens (dos filmes originais de Ivan Reitman) por mulheres e uma vontade da parte de seus realizadores de provocar um pouco, mostrando uma inversão de papéis, que acabou repercutindo numa sociedade ainda machista, que não aceita bem a mulher em lugares de destaque.
Quem se incomodou com isso, encontrou o alvo errado para reclamar do filme. Na verdade, o melhor de “Caça-Fantasmas” é justamente ver quatro boas comediantes em ação. Paul Feig ainda não conseguiu superar o seu melhor trabalho, o divertidíssimo “Missão Madrinha de Casamento” (2011), que também contava com a presença de Kristen Wiig e Melissa McCarthy, mas chega a seu melhor grupo feminino desde aquele sucesso.
Apesar das duas atrizes mais famosas, quem rouba a cena é a menos conhecida Kate McKinnon, comediante do programa “Saturday Nigh Live”, que surge mais que pronta para o seu close-up. Desde seu primeiro momento em cena, ela ofusca com sua beleza, charme, sensualidade, e além de tudo capacidade de ser engraçada. Dá para dizer que ela é o melhor motivo para se ver o filme.
Kate chega a ofuscar Kristen Wiig, que ficou um pouco apagada em seu papel. Entretanto, sua personagem é quem conduz a história, como uma cientista e professora universitária que, anos atrás escreveu um livro supostamente científico sobre fantasmas. O que ela não sabia era que a coautora do livro (McCarthy) havia disponibilizado novamente a obra e ainda estava desenvolvendo um trabalho de captura de fantasmas junto com uma nova parceira (McKinnon). Daí o motivo para as três de encontrarem. Leslie Jones, a quarta caça-fantasma, também vinda do “SNL”, tem uma participação mais forçada e estereotipada, como uma negra iletrada da classe baixa.
No mais, o filme ainda conta com uma boa participação de Chris Hemsworth (“Thor”) como o secretário das Caça-Fantasmas, em outra inversão de valores. Sai o estereótipo da loura burra e entra o estereótipo do sujeito bonito e malhado que não tem muita coisa na cabeça, e que serve mais para encantar a personagem de Kristen Wiig.
Já o gancho para elas entrarem em ação é uma mansão famosa de Nova York, que estaria assombrada, dando-lhes a chance de oferecer seus serviços e finalmente ver o primeiro fantasma. Os efeitos visuais dos fantasmas são dignos de destaque, principalmente se o espectador optar em ver o filme em IMAX 3D, com efeitos que ultrapassam o quadro, entre outras surpresinhas bem-vindas, especialmente no final.
Mas, passadas as apresentações, chega a hora da trama envolver o público e das piadas fazerem rir. E nada disso acontece. O problema do filme é que possui uma estrutura bastante viciada de narrativa, com um clímax que é tão aborrecido quanto o da maioria dos filmes de fantasia, culminando numa luta contra uma horda de fantasmas em Nova York, como se fosse um ataque terrorista ou invasão alienígena. Não há graça nem novidade nenhuma nisso.