Quando “Alemão” (2014), o maior sucesso comercial de José Eduardo Belmonte, chegou aos cinemas, o diretor já estava filmando “Entre Idas e Vindas”, que na época tinha um outro nome menos genérico. Em comum, ambos os filmes se aproximam mais do grande público que a maioria dos trabalhos mais autorais do cineasta.
A leveza e algumas escolhas frustrantes da trama de “Entre Idas e Vindas” podem até incomodar os fãs de suas obras mais complexas, como “A Concepção” (2005), “Se Nada Mais Der Certo” (2008) e “O Gorila” (2012), mas é difícil não simpatizar com a história. Claro que poderia ser um filme melhor se concentrasse seus esforços apenas na trajetória das quatro mulheres que trabalham com telemarketing, sem forçar a mão no relacionamento amoroso entre a personagem de Ingrid Guimarães (“Pernas pro Ar”) e Fábio Assunção (“País do Desejo”), que aparece em cena com seu filho João Assunção.
É justamente aí que reside o principal problema do filme: querer ser quase uma comédia romântica hollywoodiana. Ao menos, o diretor brasiliense tem bom gosto, sabe filmar, e há um trio de mulheres de tirar o chapéu no motor home que pega a estrada apenas para aproximar o casal central: as amigas da protagonista, vividas por Alice Braga (série “Queen of the South”), Rosanne Mulholland (“Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina”) e Caroline Abras (“Sangue Azul”). Além do mais, se a intenção é mesmo copiar o estilo do gênero americano, até que Belmonte não fez feio.
Como se trata de um filme sobre personagens com dores de relacionamentos, o melhor da trama está justamente nas cenas em que os problemas são confrontados, como nos belos momentos entre pai e filho (o filho quer saber mais de sua mãe, uma mulher que os abandonou há seis anos, mas que o pai não consegue esquecer e por isso vive na fossa).
Neste quesito, a melhor cena é a da roda de apostas sobre quem tem a história mais triste. É quando o público é convidado a se solidarizar com cada um dos personagens – embora seja muito difícil comprar a história de Rosanne. De todo modo, é neste momento que o filme se engrandece. A química dos atores funciona muito bem, e por mais que Caroline Abras seja mal aproveitada, cada vez que ela aparece na tela é como se um dia nublado virasse um dia de sol. E não só porque ela é muito bonita, mas por conseguir passar uma sensação radiante.
Algumas cenas na praia, filmadas com outras lentes, também são belas e ajudam a tirar o filme do ordinário. No entanto, mesmo com tanta beleza natural (das meninas, do garoto inteligente que se apaixona por uma delas, da natureza, das locações etc.), o romance do casal principal continua sendo a pedra no meio do caminho, fazendo balançar um road movie que tinha potencial para passar mais longe do lugar comum.