Há filmes que parecem não ter razão de existir. Ou não se sabe ao certo o motivo de terem sido concebidos. É o caso de “Uma Loucura de Mulher”, que remete um pouco às screwball comedies da velha Hollywood, mas também à tradição de comédias brasileiras que têm predominado há décadas em nosso cinema. O que incomoda é que, ao remeter a um tipo de humor antiquado, o filme também retoma a tradição preconceituosa e machista de tratar a mulher como uma desequilibrada ou totalmente subjugada à vontade do homem.
A mulher do título, Lúcia, vivida por Mariana Ximenes (“Prova de Coragem”), é uma ex-bailarina que abandonou a carreira para se dedicar à vida de esposa de político – a bela, recatada e do lar do deputado e candidato a governador Gero, vivido por Bruno Garcia (“De Pernas pro Ar”). As coisas mudam para Lúcia quando ela percebe que um político muito importante para a ascensão do marido tem mais interesse em levá-la para a cama do que exatamente apenas dançar com ela. O tal político é vivido pelo saudoso Luís Carlos Miéle (“Os Penetras”), em seu último papel nas telas.
Mesmo com esse cheiro de naftalina o filme poderia servir como entretenimento conservador, se o diretor e roteirista estreante Marcus Ligocki (coprodutor de “O Último Cine Drive-In”) soubesse tirar algo de engraçado dessa história toda. Lembrando que um bom exemplo desse tipo de cinema que já nasce velho, “Ninguém Ama Ninguém… Por Mais de Dois Anos”, de Clovis Mello, atingiu resultados interessantes e satisfatórios. Já Ligocki não consegue fazer rir e nem sabe (ou não quer) seguir as lições da pornochanchada, aproveitando a beleza de Ximenes e também de Miá Mello (“Meu Passado Me Condena”) no elenco.
Ainda assim, “Uma Loucura de Mulher” não é de todo ruim. Há bons créditos iniciais, feitos com animação retrô, que reiteram sua condição anacrônica, mas arrancam alguma simpatia. O fato de a história ser bastante movimentada também ajuda a tornar a diversão leve e relativamente fluida. Principalmente quando a personagem foge para o Rio de Janeiro e lá conhece a fauna de um prédio de série nacional, como a vizinha que tudo vê e o porteiro simpático. E ainda há o reencontro com o primeiro namorado, o que quase torna o filme interessante.
O problema é que o diretor e suas duas co-roteiristas põem tudo a perder sempre que as situações parecem se encaminhar para algo razoavelmente engraçado.