Filho de Oscarito procura quem cuide e exiba o acervo de seu pai

Com o apartamento lotado de objetos referentes à carreira do grande comediante Oscarito, seu filho, o músico José Carlos Teresa Dias, está em busca de interessado em cuidar e exibir o vasto […]

Com o apartamento lotado de objetos referentes à carreira do grande comediante Oscarito, seu filho, o músico José Carlos Teresa Dias, está em busca de interessado em cuidar e exibir o vasto acervo herdado de seu pai, informou o jornal O Globo.

Desde a morte da atriz Margot Louro, viúva do artista, em 2011, José Carlos e a esposa vivem apertados entre projetores raros, filmadoras a manivela, troféus, instrumentos musicais diversos, rolos de filmes obscuros, cartazes e fotos que pertenceram ao grande ídolo das chanchadas brasileiras – e que completaria 110 anos em agosto de 2016.

“Deve haver alguma instituição que possa cuidar desse material para que não fique aqui escondido, que possa torná-lo mais útil. É a memória do teatro, do cinema brasileiro. Veja este violão: antes de ser o ator das chanchadas, como muita gente o conhece, meu pai era um músico espetacular. Ele tocava violão e violino em orquestras no fosso dos cinemas durante a exibição de filmes mudos. O tempo todo em casa estava tocando. É um lado pouco conhecido dele”, disse José Carlos a O Globo.

A parte cinematográfica, no entanto, é mais rara: Oscarito tinha projetores que usava para exibir filmes no bairro em que morava, o Méier, para a crianças da vizinhança (“Ele pendurava um lençol no meio da rua, cresci vendo aquilo”, lembra José Carlos), moviolas, filmadoras a manivela, que mandava vir do exterior, e editoras de película 16 milímetros — uma espécie de “cortador” de células fílmicas — que ele mesmo manuseava em filmetes caseiros.

Há ainda alguns objetos curiosos, provavelmente sobras de cenários de alguma de suas dezenas de peças e filmes — como um capacete da 1ª Guerra Mundial e um sino de ferro fundido, além de partituras de composições do próprio Oscarito, alguns roteiros em que ele aparece como produtor e não apenas como ator, mostrando seu lado empresarial, alguns manuscritos de peças escritas por ele e muitos gibis, que tiveram edições limitadas e cujos personagens são Oscarito e o seu grande parceiro, Grande Otelo

Em dezembro de 2015, a família de Oscarito decidiu procurar o Museu da Imagem e do Som (MIS) para oferecer a guarda de todo o material. A diretora técnica do acervo da instituição, Thereza Kahl, esteve na casa de José Carlos, porém só selecionou itens iconográficos, como fotos de família, imagens de sets de filmagens, cartazes de filmes e 350 documentos civis, como contratos, registros de obras (inclusive o do nome artístico “Oscarito”), roteiros e argumentos de peças, bem como manuscritos em geral. Os objetos, no entanto, ficaram.

Ao saber que a família procura quem cuide do acervo, o escritor e crítico teatral Flavio Marinho, autor da biografia “Oscarito, o Riso e o Siso”, fez um apelo: “É fundamental preservar a memória de um dos gênios que o Brasil já teve. Ele surgiu no circo, foi para o teatro de revista, e de lá para o cinema, criando o estilo que convencionou-se chamar de chanchada. Ele pulava, cantava, dirigia, fazia paródias quando ninguém ainda fazia, era o demônio. E, por trás do palhaço, havia o compositor melancólico: ele compunha boleros, sambas-canções. Quem se lembra disto? Seria uma pena se esse material se perdesse. Aliás, por que não temos um busto de Oscarito na Cinelândia? Uma praça chamada Oscarito?”