A rede americana CW divulgou um comercial do próximo episódio da série “The Flash”, que entrou em hiato nesta semana e só volta em 22 de março nos EUA. Para atiçar a curiosidade dos fãs, o vídeo destaca a participação da primeira velocista feminina da série, a super-heroína Trajetória. Mas a forma como a personagem foi escalada ajuda a recolocar na pauta a questão da representação racial nas adaptações de super-heróis.
Os produtores de Flash já introduziram versões negras de personagens que originalmente são loiros e ruivos nos gibis, casos dos irmãos (só na série) Iris e Wally West (Kid Flash nos quadrinhos) e até Jimmy Olsen em “Supergirl”, embora o personagem continue branco em “Batman vs. Superman: A Origem da Justiça” – Santa descontinuidade! A justificativa mais brandida para essas liberdades criativas é o fato de existirem poucos personagens negros nos quadrinhos originais.
Entretanto, na hora de criar personagens novos, exclusivos para a TV, a opção tem sido majoritariamente por caucasianos. E agora a situação atinge o contrassenso, com a escalação da atriz branca Allison Paige (novela “Days of Our Lives”) para viver a negra Eliza Harmon, identidade secreta da Trajetória.
Ou seja, Kid Flash, loiro nos quadrinhos, é negro na TV. E Trajetória, negra nos quadrinhos, é branca na TV.
A decisão é no mínimo estranha e coloca em cheque as metamorfoses ambulantes promovidas por Greg Berlanti, Andrew Kreisberg e Geoff Johns. Se os poucos heróis negros viram brancos na TV, as alterações deixam de ter uma defesa racialmente correta. Vira apenas questão de gosto dos produtores.
Nos quadrinhos, a trajetória de Trajetória foi bastante curta. Ela apareceu em 2006 na minissérie “52”, escolhida por Lex Luthor para participar do Projeto Everyman, que lhe concedeu supervelocidade. Isto a deixou viciada numa droga para diminuir sua aceleração. E, culpando Luthor, ela abandonou o projeto (que visava criar uma equipe de super-heróis da LexCorp, a Infinity Inc), apenas para ter seus poderes extraídos pelo vilão no meio de uma batalha, tendo uma morte trágica.
Na série, ela está sendo descrita como uma cientista brilhante com dupla personalidade, ao estilo de “O Médico e o Monstro”.