O tema mais incontornável da Europa no momento está no centro de “Fuocoammare” (Fire at the Sea), escolhido pelo júri liderado pela atriz Meryl Streep como o vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim 2016. Documentário como todos os filmes do diretor Gianfranco Rosi, entre eles “Sacro GRA”, vencedor do Festival de Veneza 2013, “Fuocoammare” foca a dura realidade da ilha de Lampedusa, que há cerca de duas décadas é um dos principais destinos das trágicas jornadas pelo Mediterrâneo dos imigrantes. O diretor destaca não só as pessoas em fuga, mas também o quanto a situação afeta a vida de quem vive na ilha.
Em seu discurso de agradecimento, ele dedicou sua vitória “àqueles cujas viagens de esperança nunca chegaram a Lampedusa” e aos habitantes da ilha que “há 23 anos abrem os seus corações àqueles que ali chegam.”
Nascido há 51 anos na Eritreia, na África, sob nacionalidade italiana, Rosi saiu ainda com os prêmios do Júri Ecumênico, da Anistia Internacional e dos leitores do jornal alemão Berliner Morgenpost, sendo alçado à condição de “embaixador” dos refugiados sem voz. Para Meryl Streep, presidente do júri, seu filme é “urgente” e “imaginativo” e se comunica com o mundo atual.
A politização também marcou o Grande Prêmio do Júri, vencido pela coprodução franco-bósnia “Death in Sarajevo”, em que o bósnio Danis Tanovic (“Um Episódio na Vida de Um Catador de Ferro-Velho”) cria uma fábula irônica sobre a situação da Europa atual, mostrando a dificuldade de convivência dos europeus dentro de um mesmo bloco.
A francesa Mia Hansen-Love (“Eden”) venceu o Urso de Prata de Melhor Direção por “L’avenir”, sobre uma professora de filosofia (Isabelle Huppert) que se vê obrigada a se reinventar em plena meia idade, enquanto o polonês Tomasz Wasilewski foi considerado o Melhor Roteirista por “United States of Love”.
Entre os atores, o novo filme de Thomas Vinteberg (“A Caça”), “The Commune”, rendeu à sua protagonista, a dinamarquesa Trine Dyrholm (“O Amante da Rainha”), o prêmio de Melhor Atriz, enquanto o Urso de Prata de interpretação masculina ficou com o tunisino Majd Mastoura por “Hedi”, de Mohamed Bem Attia, obra que ainda venceu o Urso de Prata de Melhor Filme de Estreia.
Completando as distinções, o chinês Mark Lee Ping-Bing foi destacado pelo seu trabalho como operador de câmera em “Crosscurrent”, enquanto a proposta mais ousada da Berlinale, “A Lullaby to the Sorrowful Mystery”, um filme com oito horas de duração do filipino Lav Diaz (“Norte, o Fim da História”), levou o prêmio Alfred Bauer – destinado a produções que “abrem novas perspetivas”.
No universo das curtas-metragens, o Urso de Ouro coube à portuguesa Leonor Teles, com “A Balada do Batráquio”, filme que aborda a discriminação contra as comunidades ciganas no país. Aos 23 anos, Leonor também se tornou a mais jovem vencedora do Urso de Ouro da história do Festival de Berlim.
Vencedores do Festival de Berlim 2016
Urso de Ouro – Melhor Filme
Fuocoammare, de Gianfranco Rosi (Itália)
Urso de Prata – Grande Prémio do Júri
Death in Sarajevo, de Danis Tanovic (França/Bósnia e Herzegovina)
Urso de Prata – Prêmio Alfred Bauer
A Lullaby to The Sorrowful Mystery, de Lav Diaz (Filipinas)
Urso de Prata – Melhor Direção
Mia Hansen-Løve, por L’avenir (França)
Urso de Prata – Melhor Atriz
Trine Dyrholm, por The Commune (Dinamarca/Suécia)
Urso de Prata – Melhor Ator
Majd Mastoura, por Hedi (Tunísia)
Urso de Prata – Melhor Roteiro
United States of Love, de Tomasz Wasilewski (Polônia)
Urso de Prata – Melhor Contribuição Artística
Crosscurrent, de Mark Lee Ping-Bing (China)
Melhor Primeiro Filme
Hedi, de Mohamed Ben Attia (Tunísia)
Urso de Ouro – Melhor Curta-Metragem
Balada de um Batráquio, de Leonor Teles (Portugal)
Urso de Prata – Segundo Melhor Curta
A Man Returned, de Mahdi Fleifel (Reino Unido/Dinamarca/Holanda)
Prêmio Audi para Melhor Curta
Anchorage Prohibited, de Chiang Wei Liang (Taiwan)
Prêmio European Film
A Man Returned, de Mahdi Fleifel (Reino Unido/Dinamarca/Holanda)